Amor líquido – sobre a realidade dos laços humanos, Zygmunt Bauman
Um ensaio complexo sobre o amor e as relações humanas, neste mundo de incertezas a que o autor chama de mundo líquido, onde o ser humano pisa e afunda, sem saber muito bem o que fazer para se manter à tona. Numa primeira parte, Bauman analisa o amor-amor, ou seja, esse sentimento que tem a necessidade de formar laços duradouros, ao mesmo tempo em que o mundo líquido determina sua fluidez e, consequentemente, sua fraqueza, acenando com muitas outras oportunidades, o que faz que o ser humano navegue sem rumo pelas agruras da incerteza dos relacionamentos em rede, frágeis e subordinados, como as leis do mercado, ao humor, disposição e disponibilidade dos envolvidos. Numa segunda parte, o autor analisa o amor erótico, o sexo como sucedâneo ou como uma tábua de salvação ao amor líquido, sem compromisso, observando que o erotismo flerta com a morte, na relação eros/tanatos, deixando mais uma vez os seres humanos num beco sem saída. Em seguida, entre outras e profundas considerações sobre as relações humanas, Bauman mergulha na análise da criação da tríade que prende o ser humano em suas fronteiras: a criação do estado/nação/território, para observar que, neste mundo líquido, onde populações inteiras e mesmo muitos indivíduos, por múltiplas razões, são expulsos de seus territórios e são obrigados a emigrar, não encontram o devido abrigo em outros lugares, sendo sempre vistos como “invasores a quem se deve temer”, num processo de xenofobia que os isola em guetos modernos, ou não permite que sejam devidamente assimilados por seus anfitriões. Enfim, um ensaio profundo, que nos faz refletir sobre as mazelas do mundo em que vivemos, sobretudo quando o ser humano prega “amor ao próximo”, mas trata o próximo como o inimigo a ser abatido, por insegurança, estupidez e falta de humanidade, numa defesa absurda de seu estado/nação/território, já que é impossível viver fora de um determinado lugar, onde ocorrem todos os eventos humanos.