Complô contra a América, Philip Roth
A família Roth é composta do casal mais dois filhos, um de 6 anos e outro de 13, quando se inicia a narrativa do livro. Contada pelos olhos do menor, a história dessa família se passa no final dos anos trinta e começo dos quarenta do século passado. São judeus e moram numa pequena cidade dos Estados Unidos. O pai é corretor de seguros; a mãe, dona de casa; o irmão mais velho, um inspirado desenhista. Na Europa, Hitler começa a ameaçar o mundo, com invasões e perseguições a minorias, principalmente a judeus, mas a família se sente segura no país que venera um grande herói: Charles Lindbergh, o aviador que empreendeu o primeiro voo solitário da América à Europa e que é um defensor não só das ideias hitleristas, mas também da neutralidade dos Estados Unidos em caso de guerra no outro lado do Atlântico. Franklin Delano Roosevelt tenta, em 1940, um terceiro mandato à Casa Branca, mas é derrotado fragorosamente por Lindbergh. Aí começa pesadelo da família Roth e de todos os judeus que moram nos Estados Unidos. Como presidente, Lindbergh lança um programa de “espalhamento” da população judia, como forma de “neutralizar sua influência” na população estadunidense, com o apoio das empresas que têm empregados judeus, como o caso da família Roth, que é designada para se mudar para mais de mil quilômetros de distância, deixando para trás a vida enraizada que levavam em sua cidade natal. No entanto, o pai resiste a essa mudança, abandonando o emprego e indo trabalhar com os irmãos cerealistas, em transporte de alimentos para o mercado local. As condições de vida da família vão-se deteriorando pouco a pouco; famílias se separam; amigos de longa data são enviados para lugares distantes; a guerra explode na Europa e Hitler faz pressão para o governo dos Estados Unidos entre na guerra ao lado do Eixo. O presidente Lindbergh, embora admirador do ditador alemão, tenta manter o país neutro. Numa de suas viagens pelo interior, pilotando o seu avião – algo que ele fazia constantemente para conversar com as populações locais – desparece misteriosamente. Seu vice-presidente toma possa e aperta as medidas de perseguição aos judeus. Tudo isso e muito mais é contado com detalhes, na prosa inebriante de Roth. E tudo isso, como o leitor já percebeu, é uma distopia, uma narrativa ficcional que mistura fatos reais com a imaginação fértil do autor, para nos alertar sobre o perigo das ideologias nazifascistas que poderiam ter vencido a segunda grande guerra e poderiam ter mudado para sempre o curso da História, se realmente os Estados Unidos tivessem sofrido uma espécie de golpe de estado fascista, já que à época havia inúmeros cidadãos articulados em várias sociedade que defendiam – e talvez muitas ainda defendam – ideias fascistas de perseguição às minorias. Talvez por suas ideias “de esquerda”, Philip Roth, para mim um dos maiores escritores estadunidenses do século XX, não tenha sido agraciado com o prêmio Nobel, o que é uma injustiça, mas não é por isso que não podemos deixar de nos levar por sua prosa que, repito, é inebriante e nos conduz sempre de forma mais do que competente para mundos e ideias que só um grande escritor consegue. E à sua obra eu volto sempre que desejo ler um grande livro.
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