sexta-feira, 4 de abril de 2025

A forma da água, Gillermo del Toro e Daniel Kraus

A forma da água, Gillermo del Toro e Daniel Kraus


Anos 60, em plena guerra fria, o oficial do governo estadunidense Richard Strickland passa 17 meses na Amazônia, para capturar o deus Brânquia, uma espécie de homem-peixe, cultuado pelos indígenas. Preso no aquário de uma organização militar, a Occam, seu destino é ser morto para ter seus poderes inimagináveis estudados e utilizados para fins bélicos. Poucas pessoas têm acesso à câmara onde está a criatura, chamada de “recurso” pelos militares e cientistas, entre elas as faxineiras Elisa, uma jovem muda que tem fetiche por sapatos, e Zelda, uma negra de meia idade. Elisa consegue comunicar-se com o deus Brânquia e com ele estabelece uma espécie de diálogo mudo e de mútuo respeito. Diante do destino trágico da criatura, Elisa resolve encontrar um meio de libertá-lo. Para isso, vai contar com a ajuda de um velho e decadente publicitário e pintor gay e ainda com a ajuda improvável de Zelda. Enquanto isso, o cientista encarregado dos estudos da anatomia de Brânquia, por ser um espião russo infiltrado, recebe a incumbência de liquidá-lo, para que os Estados Unidos não obtenham vantagens na guerra fria, com os poderes do deus. Em capítulos curtos e tensos, toda a história é contada com requintes barrocos que lembram os cipós e as lianas da floresta tropical. Cumpre anotar que a inspiração para o deus Brânquia veio de um clássico antigo de terror, “O monstro da lagoa negra”, de 1954. Mas os autores vão subverter o gênero “monstro que precisa ser destruído” (e sempre o é), além de apresentar como protagonistas uma faxineira muda, um publicitário idoso gay e uma negra; e como antagonista um militar cujo passado tenebroso na guerra do Vietnã o torna submisso a um oficial de alta patente. O final da luta entre a sanha assassina de Strickland e Elisa, a frágil jovem disposta a se sacrificar pela beleza e pela liberdade de um deus misterioso e improvável, tem cenas de tensão e beleza que tornam a leitura dessa obra um prazer total e absoluto para os aficionados do gênero fantasia de terror. Encerro essa breve resenha lembrando que o filme de mesmo nome do livro, dirigido por Gillermo del Toro, teve grande repercussão na época em que foi lançado, em 2017, vencendo vários prêmios, inclusive quatro categorias do Oscar: melhor filme, melhor diretor, melhor trilha sonora e melhor direção de arte. Veja o filme, se ainda não o viu, mas leia o livro.

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