segunda-feira, 27 de janeiro de 2025

O andarilho das estrelas, Jack London

 O andarilho das estrelas, Jack London


Conta-se que a mãe de Jack London era chegada a um espiritismo, ainda muito em moda na época, fim do século XIX e início do século XX, mas o escritor era totalmente cético. No entanto, embarcou neste romance estranho, baseado nos manuscritos de um ex-detento de San Quentin, que usava a auto hipnose para suportar as torturas e viajar no tempo, recordando vidas passadas. Portanto, estamos diante de um longo relato de reencarnações, além da capacidade extraordinária da personagem de sobreviver a uma situação de extremo sofrimento. Danell Standing, um professor de Agronomia que matou um colega de faculdade, aprendeu a técnica para escapar da tortura e das dores provocadas pelos castigos a ele infringidos pelo diretor da prisão, ao colocá-lo seguidamente numa camisa-de-força para confessar um crime que não cometera. O caso foi que um detento inventou uma história de fuga da prisão e envolveu um grupo de prisioneiros no seu plano. Quando todos foram surpreendidos em situação de fuga, esse prisioneiro inventou que havia 15 quilos de pólvora escondidos, mas quando foi levado ao local onde deveria estar a pólvora, acusou Danell Standing de tê-la escondido em outro local que só ele sabia qual era. Como não podia confessar o que não existia, sofreu anos de tortura nas mãos do diretor, até que, por supostamente agredir um guarda, foi condenado à forca. As viagens por outras vidas são relatadas minuciosamente, com aventuras que remontam aos primórdios da humanidade. São, em sua maioria absoluta, histórias de sofrimento e superação, que o ajudam a resistir aos sofrimentos do presente. No entanto, não resiste o autor em relatar um momento especial na corte de Pilatos, durante o período de prisão de um pregador judeu, Jesus. Por esse relato, que nada acrescenta de novidade à história oficial, podemos desconfiar da capacidade imaginativa do narrador e, como há apenas sua palavra, registrada nos tais manuscritos (que dizem estar expostos no Museu da Filadélfia), somos levados a exaltar a capacidade ficcional de Jack London neste livro, que é bastante empolgante, quando entramos no jogo inventivo que nos propõe e aceitamos suas regras, por mais absurdas que sejam as duas premissas: a capacidade de assimilar e superar as dores da tortura extrema e a recordação de vidas passadas, através da auto hipnose.

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