Valsa Negra, Patrícia Melo
O ciúme não tem nome, neste romance de Patrícia Melo. Sabemos que o narrador é um maestro de uma grande orquestra e, em torno dele, gravitam a ex-mulher, Teresa, e a atual, Marie, trinta anos mais nova e violinista de sua orquestra; e também Rachel, a velha senhora, vizinha do prédio onde ele mora; a filha adolescente; a secretária com quem tem um breve caso e outras personagens menos importantes. O ponto de vista é dele, apenas dele: um Otelo cujo Iago está dentro de si mesmo. Por isso, em sua vida com a fulgurante Marie, judia, jovem, atraente, a busca de um sinal de traição torna-se obsessiva e essa obsessão vai num crescendo, num rodopio, como uma valsa negra, envolvendo o leitor à medida que o maestro mergulha em seu tormento, fechando-se em si mesmo e nos fechando a nós, leitores, nessa armadilha sufocante de mau humor, em mistura com amor e ódio. O maestro é um homem amargo, extremamente amargo, brigado com a vida e com tudo quanto o cerca: xinga a todos, sem qualquer pudor, principalmente a seus músicos e a todos os músicos e compositores. Sua bile amarga contamina sua visão de mundo e sua arte e leva-nos inexoravelmente para um beco sem saída de depressão e loucura. Se você estiver deprimido, não leia esse livro. Ou melhor, leia, leia sim: por pior que seja o seu estado, verá que há sempre alguém em estado pior do que o seu. Pode ser uma catarse.
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