O colecionador, John Fowles
A história do livro pode ser resumida assim: um jovem inglês persegue uma bela estudante de arte antes de sequestrá-la e mantê-la em cativeiro no porão de sua fazenda rural. No entanto, por trás desse enredo aparentemente simples há um mundo de horror, de suspense, de visões antagônicas de vida, de uma tragédia que se desenha desde o início. O livro tem dois narradores, dois pontos de vista: a do sequestrador, Frederick Clegg, um solitário e maníaco colecionador de borboletas que ganha uma fortuna na loteria. Atraído pela beleza de uma jovem estudante de artes, dizendo-se apaixonado por ela, resolve, num ímpeto, raptá-la e levá-la para viver com ele numa casa isolada, presa num porão. Não tem nenhum desejo sexual pela moça, e até mesmo repele algumas de suas investidas, na tentativa de seduzi-lo e conseguir fugir. Não é, pois, um tarado sexual. Mas, será um louco, um maníaco, ou apenas um colecionador? Satisfaz todas as vontades da garota, durante o período de cativeiro, numa atitude de vassalagem, mas não se deixa enganar por seus truques, quando tenta escapar. Já Miranda, a outra narradora. tem em si a arrogância de seus 20 anos. Inexperiente da vida, não sabe se está ou não apaixonada por um homem mais velho, um pintor famoso. Só sabe que precisa fugir e que odeia seu carcereiro, e o despreza, por ser bronco, ignorante e até mesmo por falar mal o inglês. O choque entre as duas vidas é evidente: Clegg jamais conseguirá obter de sua prisioneira qualquer possibilidade de uma vida “normal” com ele, se é possível haver vida normal entre seres tão antagônicos, e mesmo uma vida conjugal absolutamente “pura”, como ele sonha e fantasia. Não preciso enfatizar que o romance tem uma estrutura cativante ao leitor, ainda que sua atmosfera seja de angústia e sofrimento, já que estamos diante de um dos grandes escritores ingleses do século XX. Também devo lembrar que o livro teve uma adaptação famosa para o cinema, em 1965, com direção de William Wyler, e interpretações soberbas de Terence Stamp e Samantha Eggar. Embora seja um lugar comum esse tipo de observação, concluo dizendo que o filme é muito bom, mas o livro é bem melhor.
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