A livraria dos pequenos milagres, Mónica Gutiérrez
De Barcelona para Londres, a jovem Agnes Martí busca emprego em sua área, a arqueologia. Mas, mesmo na grande cidade, as portas não se abrem. Desanimada, já pensando em voltar para sua terra, entra numa pequena livraria, a Moonlight Books, de propriedade de um excêntrico e mal-humorado livreiro, Edward Livingstone, que lhe oferece um emprego de assistente. Não é o emprego de seus sonhos, mas será o emprego que mudará sua vida. Frequentam a livraria clientes típicos e estranhos, além do garoto de 8 anos de nome literário, Oliver Twist, filho de uma advogada que o deixa todos os dias à tarde sob os cuidados do livreiro, e um escritor que faz da loja o seu escritório. Parece ser a senha para um passeio pela literatura inglesa, com muitas citações de escritores e livros, num roteiro que enche de curiosidade um leitor mais atento. Mas, voltemos ao enredo: um dia, um livro histórico, de um desbravador inglês, antepassado de Livingstone, desaparece. Surge, então, a figura de um jovem detetive da Scotland Yard, que vai mudar a vida de Agnes. Paremos por aqui. O leitor dessas linhas já pode adivinhar o romance que irá acontecer. Não adivinhará, no entanto, como se desenrolará a história. O importante é que não é um livro em que aconteçam fatos mirabolantes, nem que se conte uma história absolutamente inédita, mas o encanto está justamente na forma divertida e, às vezes, irônica com que a autora manipula suas personagens num delicioso passeio por uma Londres distante dos romances de Charles Dickens, mas com alguns ecos do grande escritor. Mais duas observações, antes de encerrar. Primeiro, uma escritora catalã que escreve com propriedade um romance cuja história se passa em Londres nos diz muito sobre a União Europeia que os ingleses recusaram, em um plebiscito absurdo e manipulado. Segundo, a tradução que li vem de Portugal, com todo aquele delicioso sotaque lisboeta e com todo aquele léxico típico, como chamar de “montra” a vitrina da loja e tantos outros termos desconhecidos e divertidos, para nós, brasileiros, como devem ser divertidas para eles as palavras que usamos para designar as mesmas coisas. Portugal e Brasil, unidos pela mesma língua, separados pelo sotaque e pelo léxico!