Enquanto agonizo, William Faulkner
O enredo é bastante simples: Audie Bundren agoniza e morre vendo o filho mais velho, Cash, a martelar as tábuas do caixão em que será enterrada. Anse, seu marido, diz que seu último desejo é ser enterrada na cidade vizinha onde teriam morado seus parentes. Para cumprir essa palavra a q ualquer custo, empreende com os filhos uma viagem absurda através de uma tempestade, atravessando a vau o rio cuja ponte estava coberta pela enchente, durante 9 dias, em que Cash quebra a perna, o outro filho, Darl, enlouquece e põe fogo num celeiro onde a família se abrigava e a filha mais nova pretende abortar o filho. Essa história, no entanto, é contada na forma de um mosaico de 59 monólogos, sem muita ordem cronológica, os quais focalizam a mente e os pensamentos das 15 personagens. Até Addie Bundren tem um monólogo, fundamental, para se compreender ou tentar entender as motivações de Anse, quando se revela que um de seus filhos, Jewell (“joia”, em inglês), seu preferido, é fruto de um adultério com o reverendo Whittfield. Esses monólogos vão nos desvelando a história dessa família de sulistas brancos e pobres, seus afetos e seus ódios, suas motivações e desejos, seus desesperos e esperanças, diante de uma natureza inóspita do interior dos Estados Unidos, possivelmente na primeira metade do século XX. Os urubus que acompanham a comitiva, já que o cadáver da mãe entra em decomposição, dão bem a ideia a situação dos Bundren, escorraçados de cada aldeia e de cada grupo de pessoas de que eles se aproximam. O final do livro nos fornece uma chave preciosa para nossa imaginação – atiçada, aliás, durante toda a leitura – quando Anse apresenta aos filhos sua nova esposa com um sorriso aberto a mostrar a dentadura nova. Enfim, um dos romances mais extraordinários da literatura estadunidense, desse que é considerado um de seus maiores escritores.