Joana a contragosto, Marcelo Mirisola
O narrador é uma espécie de alter ego do autor, nesta autobiografia que não é uma biografia, mas apenas o relato do que ele chama de um “pé na bunda”, isto é, o rompimento de uma relação amorosa brevíssima. A história, ou o enredo, é muito simples: um escritor paulista famoso troca e-mails com uma fã carioca muito bonita, que lhe envia fotos eróticas de seu corpo. Marcam um encontro num hotel vagabundo no Rio, trepam durante toda a noite e, no dia seguinte, ela o deixa, dizendo que o ama, mas não sente tesão por ele, que se apaixonara perdidamente pela mulher vinte anos mais jovem do que ele, que tem 40. Todo o livro gira em torno da obsessão do narrador por essa mulher, Joana, ou Natércia, ou seja lá que nome possa ter, e suas tentativas frustradas de reconquistá-la. Um solilóquio de quase duzentas páginas que se sustentam na palavra, ou seja, na capacidade do autor de nos envolver em suas digressões, às vezes caóticas, às vezes engraçadas, usando e abusando de metáforas e de uma linguagem extremamente criativa, capaz criar elementos de non sense e de reflexões que beiram o absurdo, mas que fazem todo o sentido, dentro do contexto de sua paixão. Não há outras personagens, somente ele e Joana, a mulher que a contragosto o ama, mas não o deseja. As referências a pessoas reais dão um toque surreal à narrativa, levando o leitor a imaginar ou até a acreditar que, paradoxalmente, o apaixonado possa ser ao mesmo tempo uma personagem fictícia e uma pessoa real, num jogo realmente divertido e prazeroso de se jogar com o autor. Um livro bom de ler, num fim de semana de outono, principalmente chuvoso e frio. Ou em qualquer fim de semana de ócio criativo...