quinta-feira, 1 de maio de 2025

Eu canto e a montanha dança, Irene Solà

 Eu canto e a montanha dança, Irene Solà


Das montanhas da Catalunha nos vem esse romance singular, pela beleza poética e pela polifonia de vozes narrativas, tanto humanas quanto míticas, como animais, nuvens e espíritos, recontando e reconstruindo lendas dos Pirineus. Diz a lenda que, nessas montanhas, a par de sua beleza, a cada dez anos alguém morre atingido por um raio. E é o que acontece com o camponês e poeta Domènec de Matavaques, deixando viúva a Siò, obrigada a cuidar sozinha de quatro crianças e do velho sogro. A partir desse acontecimento, a morte trágica do protagonista (que desencadeia todo o rol de acontecimentos do romance) seguimos a trajetória de vida desses seres que vivem num ambiente complexo, onde as histórias de cada um se confundem, se entrelaçam e são teluricamente determinadas pelo ambiente agreste das montanhas e pelos seres míticos e lendários que habitam suas encostas: as bruxas que rodeiam o corpo do jovem atingido pelo raio; uma jovem corça que descobre motivos para correr e correr e correr, e como sobreviver na floresta; a cadela Lluna, neta de outra cadela que seguia o avô, Domènec, que acompanha os amores de sua tutora; a compra de um açougue pela família e muitas outras histórias, cheias de verdades humanas e contadas de forma poética e com grande sensibilidade. Talvez o romance mais poético que tenha lido nos últimos tempos, uma experiência literária que aguça o nosso prazer estético, quando percebemos mais uma vez a capacidade da literatura de nos levar para outros mundos, para outras realidades e, assim, fazer-nos mais sábios e mais humanos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário