quinta-feira, 26 de junho de 2025

A mulher desiludida, Simone de Beauvoir

 A mulher desiludida, Simone de Beauvoir


O livro original contém três histórias, mas a edição que eu li tem apenas duas: “A idade da discrição” e a que dá título ao livro. Poderiam ser chamados de contos, embora longos, porque contêm apenas um núcleo dramático. A primeira história nos traz os conflitos de um casal que se diz de convicções de esquerda com as posições cada vez mais conservadoras do filho, Philippe, que busca uma vida não de realização intelectual, mas de tranquilidade burguesa, através de um emprego medíocre oferecido pelo sogro. A par disso, refletem sobre a sua situação pessoal, a caminho da velhice, o que prenuncia as reflexões posteriores da autora não só sobre esse tema, mas também sobre o choque de gerações, que explodiu a partir de maio de 1968. No segundo “conto”, em forma de diário, a personagem feminina, na faixa dos 40 anos, mergulha num processo autodestrutivo ao constatar que o marido está tendo um caso com uma mulher mais nova. Sua vida de dona de casa medíocre e mediocrizada pela situação que ela escolheu, ao se casar, é colocada em xeque, diante dessa outra, uma mulher do mundo, separada do marido, que tem na profissão de advogada, uma vida útil que ela, a esposa, nunca teve “coragem” de buscar. Além disso, há o distanciamento e o problema das filhas: a mais velha, morando nos Estados Unidos e a mais nova num casamento também medíocre, como o dela mesma. Culpa-se pelo afastamento do marido, pela situação das filhas, pela vida “de madame” que escolheu, pela incapacidade de manter um casamento que, ao fim e ao cabo, já estava esgotado. Enfim, ambas as histórias nos colocam diante de uma pensadora da condição feminina e de outras questões pertinentes à humanidade como uma excelente ficcionista que, através de histórias bem contadas e bem articuladas, sem discursos moralistas ou moralizantes, nos levam aos pontos cruciais de seu pensamento sociológico e filosófico.

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