segunda-feira, 23 de junho de 2025

O ar que me falta, Luiz Schwarcz

 O ar que me falta, Luiz Schwarcz


Este livro é uma autobiografia de um dos maiores editores de livros do país, dono da Companhia das Letras. Então, podia-se esperar que tivéssemos uma história ligada à fundação da editora, mas não é isso de que trata o livro. Há um esclarecedor subtítulo: “história de uma curta infância e de uma longa depressão”. Humaniza-se, assim, o empresário, para narrar a vida de sua família, especialmente de seus pais, na fuga da Europa conflagrada pela segunda guerra, dominada por governos nazistas. Uma família de judeus, claro, que no Brasil encontra possibilidades de sobrevivência, mas marcada essa sobrevivência por traumas profundos. O pai, André, saltou de um trem que levava prisioneiros para o campo de concentração e extermínio de Bergen-Belsen, num grito do avô, Láios, cujo destino a família nunca soube com clareza. A mãe, Mirta, uma croata, veio ainda criança para o Brasil, através da Itália, passando por muitas dificuldades. O casal se encontra no Brasil e tem em Luiz o único filho, pois ela tem seguidos abortos, o que ocasiona inúmeras crises no casamento, interferindo essa situação na própria criação do autor, meio que se auto responsabiliza pela situação dos país, o que o leva a uma infância e adolescência complicadas, daí resultando as suas crises depressão que vão acompanhá-lo quase que pela vida toda, agravadas por um diagnóstico de bipolaridade. Essas angústias todas são escancaradas e narradas, num processo catártico de grande sensibilidade, o que permite ao leitor conviver com esses traumas e perceber que, muitas vezes, por trás de uma vida de sucesso também há sofrimento e dor, ainda que a situação privilegiada do autor permita que ele procure tratamento, o que não ocorre, em casos semelhantes, com a maioria do povo, coisa que Luiz Schwarcz tem também a lucidez de perceber e de se expressar a respeito no livro. Enfim, um relato que se lê com um certo desconforto, claro, mas com a certeza de que estamos diante da trajetória de um homem público lúcido e profundamente humano.

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