sexta-feira, 22 de agosto de 2025

Cérebro e crença, Michael Shermer

Cérebro e crença, Michael Shermer


Em termos de neurociência, muita coisa mudou desde 2012, quando esse livro foi lançado, mas nada que modifique as hipóteses aqui abordadas pelo autor. O conhecimento do que ocorre no cérebro humano tem-se aprofundado, mas alguns princípios básicos têm-se mantido, já há algum tempo. Portanto, ao integrar a neurociência às ciências sociais para afirmar, por exemplo, que o ser humano formula suas crenças primeiro e só depois busca justificativas para validá-las, continua sendo uma hipótese perfeitamente explicável por todo o arcabouço de pesquisas e exemplos que ele nos apresenta. A ideia de deus ou de uma divindade, segundo o autor, nasceu no cérebro humano há milhares de anos e, durante todo esse tempo, temos formulado uma quantidade infinita de justificativas para a existência de um ser que, de acordo com os que nele acreditam, criou o universo e, para isso, teria que ser maior do que o próprio universo criado. Assim, é impossível provar a existência de tal ser, mas os teístas tentam jogar para os ateus o ônus de provar que ele não existe, o que é uma impossibilidade lógica: não se prova a inexistência de algo. Mas, não é somente sobre a crença em deus que trata a longa e, às vezes, complexa dissertação de Michael Shermer. Aborda também a crença de cientistas que partem de paradigmas ou hipóteses consagradas em termos de afirmações literárias para tentarem comprovar aspectos da natureza que, quando se usa o método empírico da observação, se mostram totalmente equivocados, o que absolutamente não anula os esforços da ciência em tentar explicar os fenômenos da natureza. A ciência, ao contrário da crença, tem uma ferramenta de avaliação fantástica, chamada método científico que, baseada no ceticismo e no conhecimento de inúmeros outros cientistas de diversas áreas, esmiúça cada hipótese apresentada, até que todos os seus elementos sejam comprovados, ou não. Isso impede que crenças sobrenaturais e paranormais, teorias conspiratórias e absurdas consigam prosperar e essas crenças só conseguem enganar as mentes crédulas e desprovidas de qualquer aparato mais sofisticado de pensamento. Quando o autor relata os inúmeros casos de experiências no terreno da neurociência ou da longa busca dos astrônomos por entender o universo, a narrativa pode se tornar um tanto tediosa para leigos como eu, mas basta um pequeno esforço e se consegue acompanhar tais relatos até mesmo com algum prazer, já que eles nos trazem conhecimentos que raramente encontramos resumidos com tal clareza. Enfim, “Cérebro e crença” é um importante libelo contra o obscurantismo e a favor da ciência, vista a ciência não uma nova crença de valores absolutos, mas como guia para melhor entendermos o mundo que nos cerca, com a certeza de que aquilo que ainda há de inexplicável nada tem de sobrenatural. Se a ciência ainda não explicou algum fenômeno, é porque faltam dados e informações. É só questão de tempo... e pesquisa.

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