sábado, 13 de março de 2021

A menina que roubava livros, Markus Zusak


A menina que roubava livros, Markus Zusak



Passado o estranhamento da descoberta de quem é a narradora da história, compreende-se o motivo de momentos de ironia e até um certo humor, que abrem brechas de alívio na tensão da trama. O livro As benevolentes, de Jonathan Littell, traz-nos a visão do mal sob o ponto de vista de um oficial nazista que, embora burocrata, determina, fiscaliza e ordena ações que nos dão a noção clara do que foi o terceiro reich por dentro. Já esse livro que comentamos – A menina que roubava livros – traz-nos uma outra visão da Alemanha durante o nazismo, como se os dois livros fossem as duas faces da mesma moeda, para usar o chavão clássico. Quando pensamos em Hitler, vêm-nos à mente os seis milhões de judeus que ele assassinou, mas devem também ser incluídos nessa conta os milhões de cidadãos de outros países – franceses, poloneses, ingleses, russos, estadunidenses etc., etc., etc. – e ainda os milhões de cidadãos alemães – nazistas ou não – que foram mortos, mutilados e sofreram consequências terríveis de sua política expansionista e totalitária. E esse livro trata exatamente do sofrimento de uma menina de nove anos que, no interior da Alemanha, viaja para uma pequena cidade perto de Munique para ser adotada, juntamente com seu irmão menor, por um casal de meia idade, ela, uma mulher mal humorada e que lhe dá surras constantes, mas que a ama, ele, um pintor de paredes e acordeonista sensível e protetor. Só a menina, no entanto, chega viva ao novo lar, o irmão morre durante a viagem. Essa história começa em 1939, e a menina que roubou seu primeiro livro durante os funerais do irmão cresce na rua da cidadezinha, jogando bola com os outros garotos, praticando pequenos furtos, numa vida de pobreza e fome que se agrava com a guerra. E a guerra trouxe também um visitante inesperado, um jovem judeu, filho do homem que salvou a vida do seu pai adotivo durante a primeira guerra, a quem eles acolhem e escondem no frio porão de sua casa. Uma história de dor e sofrimento, mas também de superação, que termina com uma frase da narradora: “Os seres humanos me assombram”. E essa frase só ganha todo o seu sentido se você souber quem é a narradora. E você só saberá quem é a narradora, se ler o livro. Uma última nota: Liesel Meminger, a menina que roubava livros, é uma personagem para levar para sempre na memória. Ela e o livro tornam-se, portanto, inesquecíveis.


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