Bom Crioulo, Adolfo Caminha
Tem o vezo e as características da escola realista-naturalista, do final do século XIX, com seu cientificismo e seus preconceitos, mas é o primeiro romance brasileiro a tratar abertamente do tema da homossexualidade, ainda vista como uma aberração da natureza ou, quando muito, como pecado. O autor tenta não ser preconceituoso, embora encontremos aqui e ali, ao longo da leitura, uma ou outra expressão que indique que a questão não está plenamente resolvida em sua cabeça. São pecadilhos diante da importância maior da obra. As condições de vida dos marinheiros e da própria população carioca durante o segundo reinado servem de fundo ao amor entre o ex-escravo e o grumete, uma paixão avassaladora que não vai chegar a um final feliz, não exatamente por terem cometido um pecado ou esse amor contrariar a natureza, mas por uma questão de determinismo quase biológico, dentro do pensamento da época. Pela coragem e pelo enredo em si, merece ser lido e mais conhecido, principalmente pela comunidade gay, que tem a seu dispor uma quantidade ainda muito incipiente de literatura de qualidade que aborde seus problemas, seus dilemas e seus sentimentos.
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