Barroco Tropical, José Eduardo Agualusa
O escritor Bartolomeu Falcato e a cantora pop-star Kianda são amantes. Ao voltar de carro para Luanda, uma mulher cai do céu diante deles. Esse evento insólito desencadeia uma narrativa de tirar o fôlego, de fazer-nos emocionar e participar da vida de um país cheio de contradições, preconceitos, tradições estranhas, corrupção, tráfico de armas e de drogas, golpismo. Para traçar todo esse painel, a que não falta um anjo negro, o autor faz-nos viajar para o futuro próximo, uma Luanda de 2020, uma cidade à beira do caos, convivendo com todo tipo de miséria humana, misticismo e exploração juntamente com arroubos de modernidade, em edifícios imensos, onde a classe dominante mora em andares superiores, confortáveis, deixando aos miseráveis os porões sujos e mal iluminados. Uma cidade que parece em ruínas antes mesmo de se ter construído, uma ruína futurista. A trama é narrada tanto pelo escritor quanto pela cantora Kianda, com grande intensidade dramática e um sem-número de personagens fascinantes e quase kafkianos. Tem o autor momentos que lembram a literatura de Eduardo Galeano e, ao mesmo tempo, flerta com o realismo mágico. O barroco, portanto, não está apenas na construção da trama, na visão de uma cidade complexa, mítica e quase mística, mas também nas várias citações de autores e artistas sul-americanos e europeus, enredados como cipós de uma floresta tropical. Realmente uma construção barroca da literatura lusófila erguida com a perícia magistral de um grande autor.
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