Venenos de Deus, remédios do Diabo, Mia Couto
Uma história com poucos personagens: o médico português Sidônio Rosa que chega à Vila Cacimba, atrás da mulher por quem se apaixonou; o velho mecânico de navios, o moçambicano Bartolomeu Sozinho; sua mulher, Munda; o corrupto administrador da Vila, Suacelência. Em torno dessas vidas gravitam memórias, traições, desilusões e histórias complexas de amor e violência. E também a miséria humana, numa reflexão profunda sobre a razão da própria existência, a busca de sonhos irrealizáveis. E está ali a África do autor, a África profunda sobre a qual Mia Couto vem escrevendo e cujos mistérios vem desvendando em todos os seus livros, com aquele seu peculiar estilo de narrar que o torna um dos maiores prosadores de língua portuguesa da atualidade. Um livro para ler com o prazer de estar diante de uma narrativa robusta e empolgante, aliada a uma estrutura literária de grande qualidade. Ler Mia Couto é resgatar um tiquinho de nossa imensa dívida para com o continente africano, uma dívida que se consubstancia em nossa ignorância e em nosso desprezo para com um povo cujo sofrimento e cujas misérias, divisões e guerras intestinas têm a assinatura branca da escravidão, do colonialismo e da exploração predatória de suas riquezas.
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