terça-feira, 20 de julho de 2021

A cor púrpura, Alice Walker

 A cor púrpura, Alice Walker




Mundo das mulheres. Aqui, das mulheres pretas nos Estados Unidos da América, no começo do século passado. Creio que, por mais tratados e ensaios feministas que se leiam, só se pode realmente entender a causa ou as causas feministas através da história de vida das próprias mulheres, principalmente se essas histórias estão emolduradas pelas cores e relevos da arte, da ficção. Duas irmãs, no sul racista do país do racismo, a mais velha, Celie, quatorze anos, estuprada pelo padrasto, a quem ela chama de pai e tem como seu pai verdadeiro. Seus dois filhos – um casal – são-lhe tirados e entregues à adoção por uma família de missionários, mas a menina não tem a mínima noção do que lhe aconteceu realmente. Só se preocupa em defender a irmã mais nova do mesmo destino. E a irmã mais nova, Nettie, está sendo negociada para ser entregue a um homem, a quem ela chama de Senhor, ou Sinhô, ou Dono. Mas o padrasto acaba entregando a filha mais velha, com o dote de uma vaca. As duas meninas vão morar com esse homem, mas Nettie consegue fugir e desaparecer. A história é contada por Celie, principalmente através de cartas que ela escreve para a irmã desaparecida. Não sabe que essa irmã foi para a África, em missão com a família que... Bem, chega de contar a história. O importante nesta obra é a discussão da condição das mulheres pretas naquele tempo, em que a escravidão, já abolida, permanece de formas variadas de submissão. E o preconceito, o racismo, a servidão, a luta pela sobrevivência dessas mulheres saltam aos nossos olhos numa narrativa de estilo moderno, numa linguagem que, no original, se diz bem popular, cheia dos erros condenados pela língua culta, mas que dão o tom de toda a obra e do verdadeiro sentimento de Celie e de todas as vicissitudes por que passa a protagonista. Os cortes narrativos são cinematográficos, o que levou esse livro às telas, mas o que fica realmente é esse grito – que se pretendeu sufocar – da luta de todas as mulheres do mundo contra todas as formas de submissão a uma sociedade machista, principalmente a luta das mulheres pretas. Não é um livro para se ler com um lenço para enxugar lágrimas, porque não é isso o que pretende a autora, mas sim com sangue nos olhos, com a visão crítica de quanto ainda há para se conquistar em termos de igualdade de gênero em nossa sociedade atual.


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