Nome de Guerra, Almada Negreiros
O enredo é simples: um jovem inexperiente de 30 anos, filho único de pais ricos, do interior, tem a preferência de um tio solteirão, e também rico, de ser o seu sucessor no comando dos negócios da família. Envia-o a Lisboa, para ganhar experiência social e sexual, mas o rapaz se apaixona por uma “garota de bar” - eufemismo, claro. No entanto, a partir disso, constrói Almada Negreiros, mais conhecido por sua obra pictórica, principalmente um famoso retrato de Fernando Pessoa, uma verdadeira catedral literária, através de suas elucubrações sobre o ser humano, suas motivações, seus desejos, frustrações, livre-arbítrio, ao mesmo tempo que nos dá um breve panorama da sociedade lisboeta nos anos 20. Um romance que, diríamos, mais filosófico do que de enredo. O tema da iniciação sexual, no caso, tardia, da personagem Antunes, não é novo (Amar, verbo intransitivo, do nosso Mário de Andrade já havia tratado desse tema), mas há, aqui, uma outra chave de compreensão: o homem que é levado ao arroubo sexual por uma mulher mais jovem, porém muito mais experiente, que toma consciência disso, sabe que tudo aquilo é ilusão, mas utiliza a experiência para um mergulho no mais profundo do seu ser, para se descobrir diante da sociedade como um... bem, não é possível dizer o que ele descobre, sem revelar o final. Há, além, disso, o que foi para mim motivo de intenso prazer: a linguagem. Todo o delicioso sotaque da “Terrinha”, com suas palavras inusuais para nós, alinhavado num estilo moderno e envolvente tornou-se, sem dúvida, um deleite a mais na leitura, aliás, releitura, desse romance.
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