A Resistência, Ernesto Sábato
Não há dúvida de que Sábato é um dos maiores expoentes da literatura argentina do século XX. Viveu exatamente um século, tendo falecido em 2011. O livro A RESISTÊNCIA foi concluído em 2000, quando o escritor já beirava os 90 anos e achava que ia morrer. Por isso, o tom de testamento em forma de cartas, nas quais o autor, com seu estilo preciso e elegante, traça considerações sobre o mundo atual. Perpassa por todas elas um tom de nostalgia do passado, como se na tradição e nos valores antigos estivesse a possibilidade de salvação do homem moderno diante da globalização, da deterioração dos costumes, das condições de vida das grandes cidades. A primeira impressão é de total pessimismo, ao analisar, por exemplo, a subserviência da mente humana à televisão e a seus programas sem nenhum conteúdo, como se apenas o divertimento importasse; ou a alienação e solidão do ser humano no meio das grandes multidões em cidades como Buenos Aires. No entanto, Sábato, talvez até mesmo numa visão ingênua, mas não totalmente desprovida de razão, vê como saída para crise de humanidade por que passamos o amor, a compreensão, a convivência etc., aqueles tais valores que ele, meio saudosamente, evoca do passado, em termos de honra e de uma certa ética cristã. Suas análises da vida moderna, mesmo que num tom às vezes queixoso, encontra eco em muitos outros visionários do mundo moderno, como Yuval Harari. Além disso, quando um escritor da estatura de Sábato debruça-se sobre a vida e se propõe a analisar o mundo e a época em que vivemos e passar essa visão para nós, temos, sim, de ler com cuidado suas reflexões, porque transudam a sabedoria não só de sua experiência e inteligência, mas também de sua sensibilidade. Mesmo que não concordemos com todas as suas considerações.
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