Livre, a jornada de uma mulher em busca do recomeço, Cheryl Strayed
Existem narrativas “lentas” que, não importa quantas páginas tenham, é preciso ler com vagar, elas nos levam como ondas de mar calmo, mas profundo, apreciamos cada página, cada frase, cada palavra, como se fossem confeitos raros e de sabor delicado, que deixam, no entanto, uma impressão marcante, na boca e na memória. Há, por outro lado, narrativas “rápidas”, quase diria “nervosas”, que nos levam a uma leitura quase frenética, sem tempo para respirar, ondas bravias de mares que podem ou não ser profundos, as palavras como que voam diante de nossos olhos, não importa quantas páginas tenham. A história de Cheryl Strayed, escritora estadunidense, enquadra-se no segundo tipo: uma longa narrativa sobre sua experiência de trilheira numa das mais instigantes trilhas dos Estados Unidos, a famosa Pacific Crest Trail – PCT. Após perder a mãe, morta por um câncer avassalador aos 45 anos; após um casamento fracassado, um divórcio sofrido, por suas – delas, escritora – infidelidades, aos 26 anos, ela resolve buscar um recomeço, através de uma jornada quase surreal: caminhar 1700 km da longa trilha que liga o México ao Canadá, ao longo de uma série de cordilheiras nevadas e desertos que cortam vários estados da costa oeste dos Estados Unidos. Sua estilo é “rápido”, “nervoso”, sem nos deixar tempo para reflexões enquanto acompanhamos seus passos, suas vicissitudes, seus encontros e desencontros, ao longo da trilha, ao mesmo tempo que nos desvenda sua vida, seus sentimentos em relação à morte da mãe e sua relação com o marido e outros homens. Estilo, sim, best-seller, mas que contém – além da própria aventura – elementos suficientes para nos lembrar que, apesar de todas as dificuldades e sofrimentos, o ser humano é capaz de superações e de coragem para buscar a si mesmo, para se reencontrar, para se reequilibrar e seguir viagem. Sem dúvida, um bom livro para se ler, nesses tempos difíceis.
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