A casa dos espíritos, Isabel Allende
Clara, Blanca, Alba: avó, filha, neta. Em torno dessas três mulheres transcorrem mais de 70 anos de uma novela que narra a saga de uma família chilena, desde o início do século até o golpe sangrento que derrubou Salvador Allende. Dezenas de personagens cruzam a vida dessas mulheres, com destaque para a sinistra figura de Esteban Trueba, o noivo frustrado de Rosa, irmã de Clara, lá no início da trama, morta prematuramente. De origem humilde, mergulha na exploração de minas e enriquece, voltando para casar-se com Clara, a clarividente, dando início a um clã e a uma história de tirar o fôlego, em termos de estrutura narrativa e de inúmeros acontecimentos. Com o poder econômico, Esteban Trueba torna-se também senador e, como patrão e latifundiário, um dos homens mais poderosos da região. Conservador, mantém sob rédea curta seus empregados e seus empreendimentos, e quando um marxista é eleito presidente, desde o início conspira para derrubá-lo, sem perceber que tem filhos e uma neta que pensam de forma contrária e que isso pode levar a uma grande tragédia. A tragédia do próprio país e mesmo da América Latina, com seus ditadores sanguinários e seu povo amordaçado por forças políticas e escravizado por forças econômicas que o tornam refém do poder que o explora e não admite contestação. Sem dúvida, um dos grandes livros da literatura latina, sempre atual, depois de quase 40 anos passados de seu lançamento. Para ler (ou reler) com o prazer que nos dão as grandes obras, mas também com o travo amargo que nos trazem as narrativas – ainda que ficcionais – que lançam luz à história e aos acontecimentos políticos e sociais da América do Sul e nos ajudam a compreender o quão longe estamos de ideais de igualdade e justiça.
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