Diário da queda, Michel Laub
Auschwitz. Essa palavra é repetida dezenas, talvez centenas, de vezes ao longo da obra. Obsessivamente. É a chave da história narrada a partir de uma celebração de um bar mitzvah, em que garotos de 13 anos, ao jogar para cima o colega goi do colégio judeu, deixa-o cair ao chão. A partir daí, a busca de um desses garotos, hoje um homem de quarenta anos, por suas origens judaicas, numa reflexão que leva aos escritos do avô, sobrevivente de Auschwitz, escritos estranhos que revelam uma personalidade psicótica e, depois, a relação conflituosa desse jovem com o pai, desse jovem consigo próprio, com sua identidade, que passa, através de três gerações, pela compreensão do que aconteceu em Auschwitz. Como dizia Machado de Assis, o menino é o pai do homem. E hoje, esse homem de quarenta anos que rememora fragmentariamente sua vida, suas neuroses, seus três casamentos e que faz uma espécie de catarse na busca de se livrar do alcoolismo, também se torna pai. E, por isso, precisa dar um novo rumo em sua vida. A narrativa não tem a estrutura comum de um romance ou novela, mas se fragmenta em observações, em trechos dos diários do avô e do pai, em reflexões concisas, mas que vão revelando pouco a pouco a relação entre o homem moderno, setenta anos depois do término da segunda guerra, e tudo quanto aconteceu naquele momento trágico não só com o povo judeu, mas com muitas outras etnias. Como se fôssemos todos filhos de Auschwitz, símbolo do mal maior já ocorrido entre os homens. Uma bela e tocante narrativa, sem dúvida nenhuma.
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