Discurso da servidão voluntária, Étienne de la Boétie
Escrito na década de 40 dos anos mil e quinhentos, esse discurso só foi publicado após a morte do autor. Nele, Étienne de la Boétie discorre sobre o oxímoro por ele proposto: a servidão voluntária. Se é voluntária, como pode ser servidão? E se é servidão, como pode ser voluntária? Seu tino filosófico se volta para os tiranos que, sendo apenas um homem comum, mas extremamente cruéis, conseguem subjugar centenas, milhares e milhões de criaturas. E por que os seres humanos se deixam escravizar por um tirano que não passa de um ser humano que tem todas as fraquezas de outro ser humano? Suas diatribes recaem sobre essa passividade humana, esse espírito de servidão que faz que tantos seres humanos percam seus bens, sua dignidade, sua liberdade, colocando-se sob as ordens de tiranos. A solução, para o autor, não está na guerra, na revolta, no derramamento de sangue, mas que os seres humanos simplesmente parem de seguir as ordens dos tiranos, que não mais cumpram seus desejos, que não se submetam a seus caprichos. Está aí, talvez, a origem de tantas resistências pacíficas praticadas ao longo da história. Há casos de sucesso, como o jejum de Gandhi, que estremeceu o Império Britânico e levou seu povo à liberdade (ainda que isso seja um mito). Entre muitos pontos importantes e relevantes do Discurso em si, ressalta-se, além de que o poder que um só homem exerce sobre os outros é ilegítimo, outras questões, como: a preferência pela república em detrimento da monarquia; as crenças religiosas que são frequentemente usadas pelas monarquias para manter o povo sob sujeição e jugo; a reafirmação da liberdade e a igualdade de todos os homens na dimensão política; a evidência, pela primeira vez na história, da força da opinião pública; a repulsão a todas as formas de demagogia e, finalmente, o destaque de que a servidão é absolutamente irracional, já a partir do título. Não lhe parece tudo isso extremamente atual?
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