Tijolo de segurança, Carlos Heitor Cony
Uma ilha que não tem nome (mas identificável como a Ilha do Governador, no Rio de Janeiro) e seus habitantes: velhos aposentados, vagabundos, bêbedos, pescadores, pequenos negociantes etc. Entre eles, Cláudio, casado, duas filhas pequenas, morador num pequeno condomínio cujo dono é seu sogro, juntamente com outros familiares. Cláudio é predador sexual, tem várias amantes e vive angustiado, dividido entre as várias mulheres e a família. A comunidade da ilha vê, de repente, sua calma quebrada por um ladrão ou suposto ladrão que percorre as ruas nas madrugadas, sobe em poste, espia as mulheres dormindo e até as conquista, mas que acaba se tornando uma espécie de lenda, quando a marinha e a aeronáutica, coproprietárias da ilha e responsáveis por sua segurança, armam um grande aparato para capturar o ladrão e não obtêm nenhum resultado. Mas os velhos moradores não se deixam enganar pelo pretenso sumiço do indivíduo, e mantêm vários sistemas de vigilância comunitária. Enquanto isso, Cláudio, apaixonado por uma de suas amantes, torna-se cada dia mais estranho e mais angustiado. Um dia, a vigilância da ilha prende um bêbedo notório da ilha, acusado de ser o tal ladrão. Agredido por um dos moradores mais exaltados, acaba falando demais: diz que sabe quem é o verdadeiro ladrão. A comunidade resolve soltá-lo e deixar que ele se acalme e depois apertá-lo, para que ele confesse o que diz saber. No entanto, ele é assassinado violentamente dentro do barco onde costuma dormir. Agora, não estão mais atrás apenas de um ladrão ou de um mero vagabundo notívago que gosta de pular os muros das casas e espiar as mulheres adormecidas, mas sim de um assassino. O painel de tipos e personagens a desfilar diante de nós traça uma foto 3x4 de uma sociedade complexa, assustada e policialesca dos anos sessenta, data em que foi escrito o livro. Os desajustes psíquicos, a vida fechada numa ilha, onde todos se dão o direito de vigiar o vizinho e saber o que acontece ao redor, a militarização da polícia e sua incapacidade de resolver os problemas do cidadão, tudo isso prenuncia os anos posteriores de escalada da violência que viveu e está vivendo a ex-capital do país. Não é o melhor de Cony, esse grande cronista de nossos costumes, mas é um bom romance, sem dúvida.
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