A casa no lago, uma história da Alemanha, Thomas Harding
Século XIX, uma família de judeus adquire uma gleba de terras perto de Berlim, na Alemanha, numa localidade chamada Gross Glienicke, e ali constrói uma casa típica da região, não muito grande, mas o suficiente, na sua rusticidade de época, para uma família razoavelmente numerosa de final do século. Uma casa à beira de um belo lago. Mais de 120 anos depois, um descendente dessa família, o autor do livro A CASA NO LAGO, o inglês Thomas Harding, sob os olhares desconfiados e até mesmo opositores dos demais membros da família, decide voltar à casa do lago, levantar sua história e a história de seus moradores nesses anos todos. E a história da casa no lago e de seus moradores confunde-se com a história da própria Alemanha: passa pela primeira grande guerra, pelas modificações sociais dela decorrentes; a ascensão do nazismo e a perseguição aos judeus, a perda da propriedade para o estado nazista; a segunda guerra mundial e os inúmeros ocupantes da casa durante os anos do socialismo da Alemanha Oriental, quando da divisão do país; a construção do chamado muro de Berlim, que separou a casa do seu lago; posteriormente a derrubada do muro e a reunificação da Alemanha, até os dias de hoje, quando, no começo do século XXI, os políticos no comando de Gross Glienicke resolvem que a casa não tem valor histórico e resolvem derrubá-la para construir, no terreno, um conjunto de casas populares. Mas o autor consegue o apoio de associações preservacionistas, para reverter a situação e a casa finalmente é reconhecida como patrimônio histórico da vida não só dos judeus alemães, mas da própria Alemanha. Além da história por trás da história da casa e da trajetória dos seus ocupantes, há algo nessa crônica que nos leva a muitas reflexões: embora o autor não manifeste nenhuma simpatia pelo regime socialista vigente após a segunda guerra na Alemanha Oriental, ele narra detalhes bastante significativos da vida dos alemães orientais nesse período e mais: pela primeira vez, leio um relato dos últimos dias do muro e sua demolição pelos olhos do “outro lado”, isto é, pelos olhos daqueles que moravam na Alemanha socialista. E vemos a mudança de vida de toda uma comunidade como um espelho do foi essa mudança na vida de todo o país, uma mudança para um mundo capitalista não necessariamente melhor do que aquele em que viviam, como parece claro nos depoimentos dos que viveram os dois momentos, o do socialismo e, depois o da unificação, o do capitalismo ocidental. E que cada um tire suas conclusões desse belo relato, um documento de micro-história que nos ajuda a entender um pouco mais o que foi o século XX.
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