Catástrofe 1914 – A Europa vai à guerra, Max Hastings
O fato que deflagrou a Primeira Guerra foi o assassinato do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono austríaco, e sua esposa no dia 28 de junho de 1914. O arquiduque e sua esposa foram mortos a tiros em Sarajevo, capital da Bósnia. O assassino foi um estudante nacionalista sérvio, ao que tudo indica, sob os auspícios de organizações ligadas ao governo. No entanto, isso é só uma meia verdade: ninguém ligava muito para o arquiduque, era uma figura secundária da aristocracia austro-húngara, apesar de herdeiro do trono. O império estava decidido há muito a invadir a Bósnia, para aumentar seu poderio territorial. Contava, para isso, com o apoio do cáiser alemão. E o que se viu a seguir foi uma das maiores carnificinas da história. A Europa se transformou num abatedouro de milhões de soldados dos exércitos combatentes: de um lado, Alemanha e o Império Austro-Húngaro; do outro, a Tríplice Entente, formada por França, Inglaterra e Rússia. Os primeiros meses dessa carnificina são detalhadamente contados, quase dia a dia, por Max Hastings, através de depoimentos de soldados de ambos os lados. Não há mocinhos ou bandidos: todos são bandidos, no sentido mais torpe do termo. As inúmeras batalhas, travadas por tropas mal preparadas, com armas que funcionavam mal ou não funcionavam; com os batalhões tendo de caminhar milhares de quilômetros antes de encontrar o inimigo, por estradas de terra encharcadas, onde os veículos e os cavalos atolavam; as trincheiras alagadas, nas quais as condições de vida eram as mais miseráveis possíveis; as invasões de inúmeros vilarejos por tropas inimigas e o sofrimento da população civil, muitas vezes punida aleatoriamente com fuzilamentos por suspeita de acobertar franco-atiradores, o terror de todos os combatentes; as inúmeras decisões erradas e mal conduzidas por chefes militares grosseiros e estúpidos de todos os exércitos em luta, o que levava à morte milhares de soldados; a falta de infra estrutura para fornecimento de alimentos e munição; as tropas exauridas a entrechocar-se até à morte em combates corpo a corpo; a ignorância dos meios de comunicação de ambos os lados da guerra, quanto ao que realmente acontecia nos campos de batalha; os relatos individuais das agruras dos soldados, seus medos, os julgamentos e fuzilamentos por deserção, a exaustão total e seus pequenos artifícios para sobreviver, o que muito poucos conseguiram; enfim, cada detalhe da carnificina está devidamente relatada, para que o leitor tenha uma visão por dentro do que é verdadeiramente uma guerra. Sem dúvida, uma obra para se ler com a respiração presa ou opressa, por todo o horror que nos inspira isso que é uma das mais tenebrosas invenções da humanidade, a guerra.
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