A via crucis do corpo, Clarice Lispector
“Se há indecências nas histórias, a culpa não é minha”: assim se desculpa a grande escritora, pelos treze contos desse livro que foge um pouco ao tipo de literatura praticado por ela. Foi fruto de uma encomenda, mas como tudo o que ela escreve tem seu estilo, sua forma toda peculiar e, por que não dizer?, sua genialidade, não encontramos nenhuma escatologia nos contos, mas sim, revelações de desejos inconfessáveis do corpo, delírios de almas atormentadas por experiências várias, desde a velhice que ainda traz ardores, até o medo da morte e os momentos de fracasso no amor. Humanizam-se todas as personagens pelo olhar sensível da autora, que nos leva pelos labirintos do desejo de forma elegante e sincera, resvalando as “indecências” com a sabedoria de quem sabe o que está falando, mas principalmente com o olhar agudo e, ao mesmo tempo, irônico e perspicaz. Nós, leitores, desculpamos todas as indecências, e só lamentamos que sejam tão poucas, não as indecências, mas as histórias, apenas treze.
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