Rebecca, Daphne de Maurier
A história de um fantasma. Creio que seria essa a frase a resumir o enredo desse livro, que tem uma protagonista ausente, já morta, o tal fantasma, e grandes pinceladas de melodrama. Melodrama: não é, como muitos pensam, constituído de enredos melosos e sentimentaloides, embora muitos enredos desse tipo aproveitem-se da estrutura melodramática para provocar lágrimas em seus leitores. Melodrama é o enredo em que nada é o parece, ou seja, quando as personagens parecem uma coisa e, na realidade, são outra, muito diferente. O melodrama engana o leitor o tempo todo. No cinema, Hitchcock usou e abusou dessa estrutura, para pregar sustos reais ou imaginários em seus espectadores, ou levá-los a pensar que tal ou qual personagem era inocente, para, ao cabo mostrar que era culpado, e vice-versa. Não à toa levou às telas outros três livros da autora de Rebecca, todos estruturados de forma melodramática. Voltemos ao nosso livro: a narradora é uma jovem órfã, na década de 30, empregada como dama de companhia de uma senhora inglesa excêntrica. Durante a estada das duas em Monte Carlo, na França, ela conhece Maximiliam de Winter, um inglês quarentão, recentemente viúvo e rico. Casam-se em poucas semanas e o casal vai morar na mansão chamada Manderley, nas costas da Inglaterra. E aí começam os problemas da jovem esposa: vê-se “atormentada” pela sombra da ex-mulher, que era seu oposto em tudo, pelo menos era o que ela imaginava: alta, bela, orgulhosa, esportista e, principalmente, amada e admirada por todos – amigos, vizinhos e empregados da mansão, onde reinava sobranceira. Não falta, entre os empregados, a administradora misteriosa e fervorosa admiradora da morta. Também há figuras estranhas, como o rapaz abobado que frequenta a praia preferida da morta. Manderley, na majestade de suas construção, com seus jardins e bosques floridos, torna-se praticamente uma “personagem” nesse romance de intricadas implicações psicológicas, em que há muitos segredos a serem desvendados e mistérios insondáveis da mente humana. O enredo é muito bem construído, para nos levar até as últimas linhas em suspense, mesmo que alguns dos mistérios e segredos tenham sido desvelados. Boa leitura para um fim de semana frio, degustando um vinho e um cobertor. Ou, no verão, à sombra de coqueiro, degustando algo bem gelado.
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