A flecha de Deus, Chinua Achebe
Nigéria, década de 20 do século passado. A aldeia de Umuaro tem como sumo sacerdote Ezeulu e vive conflitos internos com aldeias vizinhas. Além disso, há a ameaça das crenças e da imposição política do homem branco, de ingleses conquistarem o território. Ezeulu envia seu filho, Oduche, à igreja do homem branco para ser os seus olhos e, então, poder proteger a aldeia do avanço das suas crenças. Nem todos os anciãos, no entanto, concordam com essa ideia e Ezeulu tem que tomar decisões importantes, que implicam o futuro de seu povo. Do outro lado, há o capitão Winterbottom, responsável político pela região, que se vê também obrigado a tomar decisões com as quais não concorda. Sabe que os povos africanos são tribalistas e não aceitam a ideia de um governo central, um rei. Mas, há uma ordem para que ele nomeie alguém de confiança para ser uma espécie de rei, de representante da coroa, na região de Umuaro. Escolhe Ezeulu. São dois mundos distantes, em conflito de língua, hábitos e costumes. E o autor não nos poupa na descrição deliciosa e rica de detalhes da espécie de visão de mundo dos nigerianos daquela região. Seu modo de compreender a vida, com características marcantes da linguagem, rica de comparações e de referências que soam estranhas aos nossos ouvidos: “se você me ouvir novamente perguntar-lhe sobre isso, pegue meu nome e o dê a um cachorro”; “se o lagarto do lar se esquece de fazer as coisas pelas quais sua espécie é conhecida, ele será tomado por um lagarto da roça”... Assim que nos acostumamos com esse tipo de linguagem e com todos os detalhes da vida nos povoados de Umuaro, passamos a seguir o pensamento de Ezeulu com prazeres cada vez mais renovados, partícipes de um mundo que se descortina ante nossos olhos, um mundo talvez arcaico e primitivo, mas rico, muito rico de cultura, de beleza e de costumes. A literatura africana, que aos poucos se mostra ao mundo, tem talentos inexauríveis e grandes contadores de história, como esse nigeriano fantástico que se chama Chinua Achebe.
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