Atlas de nuvens, David Mitchell
Romances construídos como quebra-cabeças, com peças que se vão encaixando aos poucos, até formarem um todo coerente, precisam ter uma carpintaria bem elaborada, para que o leitor não se perca em seus labirintos. Isso é especialmente necessário, quando, além de labiríntico, as peças são longas e aparentemente sem nenhum nexo entre elas. David Mitchell sabe o que faz e o faz com mestria, nesse longo romance que contém seis histórias que se conectam no tempo e no espaço: do século XIX no Pacífico ao futuro pós-apocalíptico e tribal no Havaí: um viajante forçado a atravessar o oceano Pacífico em 1850; um jovem compositor deserdado, conquistando à força de tortuosas invenções um modo de vida precário num solar da Bélgica, entre a Primeira e a Segunda Grande Guerra; uma jornalista com princípios morais na Califórnia do governador Reagan; um editor menor fugindo aos seus credores mafiosos; o testamento de uma «criada de restaurante» geneticamente modificada, ditado na ala da morte; e Zachry, jovem ilhéu do Pacífico que assiste ao crepúsculo da Ciência e da Civilização – esses são os narradores de “Atlas de Nuvens”, que escutam os ecos uns dos outros através dos corredores da história e veem os seus destinos alterados de várias maneiras. Segundo alguns críticos, um dos romances mais importantes da atualidade, ao explorar questões fundamentais de realidade e identidade, num jogo de matrioskas que leva o leitor por trilhas e questionamentos de especulação filosófica e científica, na linha de Umberto Eco, Haruki Murakami e Philip K. Dick.
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