terça-feira, 8 de março de 2022

A guerra do Paraguai, Luiz Octavio de Lima

 A guerra do Paraguai, Luiz Octavio de Lima



Uma ferida ainda não cicatrizada no cone sul da América do Sul: a guerra do Paraguai, ou a guerra da Tríplice Aliança ou, ainda, a guerra da Tríplice Infâmia. A escolha do nome depende do país envolvido, Brasil, Argentina, Uruguai ou o Paraguai. Um conflito que durou praticamente seis anos e consumiu a vida de quase 150 mil militares e civis, dentre os quais muitas mulheres, velhos e crianças. Criaram-se mitos e mistificações em torno dessa guerra. A verdadeira história talvez nunca saibamos ao certo, mas o que se sabe está narrado neste livro de Luiz Octavio de Lima, com precisão, objetividade, sem “revisionismo” e com bastante imparcialidade. O que se conclui de sua leitura é que a guerra, o campo de batalha, as lutas fratricidas revelam no ser humano aquilo que ele tem de pior: o ódio, a barbárie, o gosto pelo sangue e pelo assassínio. Francisco Solano Lopez é filho do seu antecessor no governo da nação paraguaia, provém de uma das oligarquias que se alternam no poder, famílias riquíssimas e poderosas. Tem uma educação de príncipe, viaja por toda a Europa e de lá traz para seu povo muitas novidades, embora também muitas armas. Seu pai, Carlos Solano Lopez era pacifista, desejava uma solução mediada para os conflitos que envolviam a navegação da Bacia Cisplatina. Francisco, no entanto, ao suceder ao pai, arma o país para a guerra e tem como pretexto para o conflito a invasão do Uruguai pelo Brasil. A Argentina é um país dividido em províncias que não se entendem. Dividido também em termos de quem apoiar, mas acaba pendendo para o lado do Império (o Brasil) e forma com o Uruguai a Tríplice Aliança, um tratado que prevê praticamente a extinção do Paraguai depois da vitória, com a divisão do país entre os três aliados. O conflito é sangrento, as batalhas se sucedem e se alongam. A barbárie corre solta. Solano Lopez torna-se cada vez mais rancoroso, desconfiado e vingativo: seu ídolo, Napoleão, lhe dá a certeza da vitória, mas precisa ser duro não apenas para com o inimigo externo, mas também com as traições internas. Chega a mandar fuzilar um dos seus irmãos, prender o outro e, suprassumo do ódio, condena a própria mãe à morte, sentença que revoga, mas a mantém detida e submetida a tortura e maus tratos. Quase ao final da guerra, assume o comando das tropas brasileiras uma figura emblemática: o Conde D’Eu, jovem de 28 anos, casado com a princesa Isabel. Numa das batalhas, é ferido e morto o seu amigo dileto, o general João Manuel Mena Barreto. O Conde tem um surto de ódio e manda torturar o comandante paraguaio que fora feito prisioneiro e depois decepar sua cabeça. Não contente, enfileira os 900 prisioneiros, muitos deles adolescentes, e ordena que sejam todos degolados. “As execuções se seguiram a tal ponto que mesmo os mais experimentados oficiais, acostumados à crueza dos combates chegaram a sentir fortes reações de mal-estar. O extermínio só foi interrompido com a intervenção do general Emilio Mallet, que, abalado, tentou chamar Gastão à razão: – Basta, comandante! Basta! Muito sangue já foi derramado e não podemos nos comportar de forma igual à que mais condenamos no inimigo! – apelou, sendo felizmente atendido pelo conde, que afinal concordou em suspender a carnificina.” Ao final, as tropas paraguaias são derrotadas, mas Solano Lopez consegue evadir-se, numa longa e desastrosa caminhada pelo interior, com um contingente de poucos soldados, muitas mulheres e crianças, além da própria família, no caso a amante europeia, Elisa Alicia Lynch, e seus filhos. Em 1o de março de 1870, López é morto em Cerro Corá, com um golpe de lança desferido pelo brasileiro José Francisco Lacerda e por um tiro de fuzil. Termina a Guerra do Paraguai, que começara em 1864. A única herança positiva dessa carnificina foi o tratado de livre navegação pela Bacia do Plata, principal motivo das desavenças entre os países platinos em todo o decorrer do século XIX.


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