quinta-feira, 17 de março de 2022

Beleza e tristeza, Yasunari Kawabata

 Beleza e tristeza, Yasunari Kawabata



Ler Kawabata é penetrar fundo na cultura japonesa, além do prazer estético de seus enredos, sempre muito humanos, profundamente humanos. Escritor meticuloso na criação de personagens, traça perfis que nos enredam com seus sentimentos de maneiras as mais sutis. Em “Beleza e tristeza”, um romance do passado entre uma jovem de dezesseis anos e um adulto de mais de trinta ressurge muitos anos depois, tempo que devia ter depurado todos os sentimentos, mas que são trazidos de volta de forma – sempre com sutileza – de maneira inesperada. Oki Toshio tem como seu maior sucesso como escritor justamente um livro chamado “Uma garota de dezesseis anos”, no qual narra sua história com a hoje famosa artista plástica Otoko Ueno. Na época do tórrido romance entre eles, ele já era casado e tinha um filho. Otoko também engravida, mas sofre um aborto. O reencontro entre eles ocorre muitos anos depois, quando, com a desculpa de ouvir os sinos do monastério de Kioto, num final de ano, Oki procura sua antiga amante e descobre que ela vive com uma jovem belíssima, Keiko, que será o pivô de toda a história de vingança e ressentimentos do passado que envolverão não só esses três personagens, mas principalmente o filho de Oki, Taichiro. Mais não se deve contar do enredo, mas a trama profundamente psicológica vai nos revelar um Japão profundo, de usos e costumes que começam a se modificar depois da segunda grande guerra, através de personagens que às vezes nos perturbam e às vezes nos fazem pensar no lado obscuro do ser humano. Um livro que se lê com o prazer de se estar diante de uma obra-prima desse que é um dos maiores escritores do século XX de um país que tem uma longa, longuíssima tradição literária, que só agora desvendamos, através de várias traduções de autores japoneses.


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