Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas, Michael Shermer
Por que acreditamos no que acreditamos? A resposta a essa pergunta é complexa, por isso é necessária uma leitura atenta do livro do cético Michael Shermer, para descobrir que a crença em coisas estranhas (e o conceito de estranheza também é fluido, como diria outro pensador contemporâneo, Zygmunt Bauman) faz parte de nossa natureza de humanos que buscamos o conforto de padrões e conexões entre eventos, mesmo onde não haja a menor possibilidade de que sejam verdadeiros, em termos de lógica. Para não cairmos nas armadilhas das crenças absurdas (e praticamente todos caímos), é necessário observar o mundo com um olhar baseado no método científico. E é o que faz o autor, ao abordar temas como a negação do Holocausto, o criacionismo, as experiências de quase morte, a paranormalidade, a aparição de discos voadores e a abdução de seres humanos por extraterrestres, sem contar as inumeráveis superstições do dia a dia a que, às vezes inconscientemente, nos submetemos, como se certos gestos, atitudes, hábitos, pensamentos fossem mágicos, para nos trazerem sorte ou nos livrarmos dos males e das vicissitudes da vida. O mais impressionante nessa pesquisa profunda da nossa capacidade de acreditar em ilogicidades é que nem cientistas, nem pessoas consideradas extremamente inteligentes escapam dessas crenças absurdas. Físicos, matemáticos, cientistas enfim, de renome escreveram extensas obras defendendo, por exemplo, o criacionismo ou a prova da existência de Deus através da ciência, ou ainda, a paranormalidade e a existência de extraterrestre entre nós. E por serem inteligentes, usam sua inteligência para construir argumentos formidáveis para nos levar a acreditar, como um ilustre matemático citado no livro, que a humanidade vai conquistar o universo e, através de supercomputadores de inteligência artificial, fazer-nos ressuscitar a todos em algum momento do futuro, ou seja, que somos, portanto, imortais. Enfim, este livro é mais uma vela acesa neste “mundo assombrado por demônios” (para citar outro mestre do ceticismo e do cientificismo, Carl Sagan), para nos orientar a sermos céticos, no sentido exato do termo: nem uma visão niilista nem cínica, mas, como afirma o autor, “o ceticismo é uma abordagem provisória das afirmações, é a aplicação da razão a todas as ideias. O ceticismo é um método, não uma posição. Os céticos não entram numa investigação fechados à possibilidade de que o fenômeno seja real ou a afirmação seja verdadeira. Quando dizemos que somos céticos, queremos dizer que precisamos ver evidências concretas antes de acreditar.” É isso.