As regras da casa de sidra, John Irving
Tema central do livro: o aborto. Para escândalo dos conservadores. No entanto, uma narrativa humana, muito humana, além de ser uma leitura extremamente agradável. No estilo de dois autores constantemente citados durante a narrativa: Richard Dickens e Charlotte Brontë, principalmente "As aventuras do Sr. Pickwik", "A Pequena Dorrit" e “Jane Eyre”, porque são livros sobre órfãos e é em torno de um hospital orfanato e sobre um órfão especial e, claro, sobre um médico aborteiro, que gira toda a história. Resumo do resumo: o doutor Wilbur Larch dirige uma espécie de hospital e orfanato que recebe apenas dois tipos de mulheres grávidas: as que querem abortar e as que vão ter o bebê, mas pretendem enjeitá-lo, ou seja, abandoná-lo à doação. Aos bebês abandonados as enfermeiras se notabilizam em lhes dar nomes estranhos, quase todos relacionados ou ao médico ou a si mesmas, até que sejam adotados e recebam nomes definitivos. Homer Wells é um desses órfãos. Quatro vezes adotado, quatro vezes devolvido pelas famílias, por razões diversas, cresce ao lado de seu tutor e espécie de herói, o médico Wilbur Larch. Já um jovem adulto, abandona o orfanato ao se encantar pela jovem namorada de Wally, um produtor de maçãs de uma região próxima, que ali fora levar a moça, Candy Kendall, para um aborto, e por não concordar em se tornar um aborteiro como o diretor do orfanato. Não que fosse contra o aborto, mas não queria essa profissão para si, mesmo com todo o conhecimento sobre medicina, partos e abortos adquirido nos anos de convivência com o médico. Necessário dizer que toda a história se passa no Maine, em St. Clouds, a cidadezinha abandonada por madeireiros, no passado, onde fica o hospital, e em duas outras regiões do mesmo estado, Heart’s Haven e Heart’s Rock, no litoral, entre os primeiros anos do século XX e os anos 50. A intenção de Homer é voltar ao hospital em pouco tempo, mas isso não acontece: ele fica longe por muitos e muitos anos. E durante esse período, Wally se torna piloto durante a segunda guerra, vai para a Birmânia e desaparece. Homer e Candy se envolvem e têm um filho. Quando Wally retorna, depois de muitos meses, o casal resolve esconder dele a paternidade do filho, dizendo que era um órfão adotado do hospital do doutor Wilbur. Candy e Wally se casam. Os anos passam, muitas histórias acontecem, muitos eventos, e depois de mais de 15 anos, Homer e Candy temem contar a verdade a Wally. O doutor Wilbur morre, durante uma sessão de éter, de que é viciado, já com mais de noventa anos, e deixa um pedido para que Homer volte para St. Colud’s e seja o seu sucessor na direção do hospital-orfanato, já que ele é, sim, médico, apesar de não ter tido estudos regulares, mas muita experiência e leitura, durante todo o tempo em que esteve afastado de lá, nas fazendas de cultivo de maçãs. A história é longa, o livro tem mais de 600 páginas, mas a estrutura em overlap, em que vários eventos e várias histórias se esboçam, são abandonadas e retomadas mais adiante, torna a leitura fascinante, principalmente quanto à riqueza de caracteres humanos contidos no seu enredo. Sem dúvida, um grande romance, digno de Dickens e Brontë modernizados e dinamizados pela velocidade do século XX.
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