sábado, 21 de janeiro de 2023

Eu sou um gato, Natusme Soseki


Eu sou um gato, Natusme Soseki


“Wagahi wa neko de aru”. Assim, no original, apresenta-se o gato sem nome que dá título ao livro: “Eu sou um gato”. Explicar-nos o tradutor – Jefferson José Teixeira – em nota de rodapé: “Das muitas formas de dizer eu em japonês, Soseki optou pelo pronome de primeira pessoa “wagahi”, cujo uso era restrito a políticos, militares etc., e se revestia de certa arrogância”. Exatamente o que caracteriza o gato-narrador: uma certa arrogância e muita, muita ironia e até mesmo sarcasmo, ao desfilar diante de nossos olhos as personagens do livro, revelando todo o cinismo interior de cada um, seu mundo repleto de mesquinhez, mentiras, vaidades e de um total vazio de ideias e de visão de mundo. Esse gato-narrador apareceu num terreno baldio, num dia qualquer do ano de 1905, na cidade de Tóquio. Depois de algumas poucas adversidades, é acolhido por um professor mal-humorado e sem perspectiva de vida, chamado Chinno Kushami. Descobre logo que é superior, em termos de conhecimento, de vida, de filosofia, a esse professor e os vários amigos que frequentam sua casa. Mesmo limitado à visão e à movimentação de um felino, reproduz de forma hilária os diálogos malucos desses seres estranhos, misturando citações de autores, filósofos e artistas tanto ocidentais quanto orientais, num retrato mordaz dos costumes e da mentalidade da Era Meiji (1868-1912), quando o Japão passa por mudanças políticas, econômicas e sociais, que o projetam no mundo como uma grande nação. Uma narrativa longa e lenta, que se deve ler com a mente aberta a todas as ironias do gato e com o prazer de estar diante de um dos maiores escritores japoneses dos dois últimos séculos.

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