Sul da fronteira, oeste do sol, Haruki Murakami
Um livro cheio de mistérios, não os mistérios policiais, mas os mistérios da vida, pela escrita sempre magistral de Murakami. E, à medida que os mistérios se acumulam, vamos nos envolvendo em nuvens de beleza de uma narrativa que tem início, tem um meio e não tem um fim, porque é assim a vida, como disse o bardo, “cheia de som e fúria”, ainda que o som seja de jazz americano (como é a trilha sonora desse romance) e a fúria seja apenas desaparecimentos, fugas, detalhes fugidios, finalmente, uma noite quente de amor com a pessoa amada. O enredo não é complexo: Hajime, o narrador, cujo nome significa “início”, nasceu numa província japonesa na primeira semana do primeiro mês do primeiro ano da segunda metade do século XX, como filho único, fato que o incomoda durante muito tempo. Durante o seu período escolar, faz amizade com Shimamoto, também ela filha única, inteligente e que puxa uma perna. Juntos, estudam, leem e ouvem música, principalmente Nat King Cole, de quem a canção “South of the Border, West of the Sun” dá título ao romance. Mas, no começo da adolescência de ambos, Shimamoto se muda para outro bairro e, aos poucos, eles deixam de se ver. O jovem Hajime segue sua vida, conhece e namora outras garotas, vai para Tóquio, onde se forma, e anos depois se casa com Yukiko, cujo pai é um rico empresário do ramo de construções, e com ela tem duas filhas. Graças ao empréstimo do sogro, abre dois bares de sucesso e segue sua vida de empresário, sem grandes ambições. Uma vez, tem a impressão de ver Shimamoto na rua e chega a segui-la, mas algo acontece que o impede de se aproximar dela e esse acontecimento é só mais um mistério na sua vida. Uma noite, no entanto, ele a encontra sentada à mesa de seu bar, tomando um coquetel. Reatam a amizade e o amor renasce para ambos, um amor que parece trilhar o platonismo, já que ela não lhe diz absolutamente nada de sua vida, até que, um dia, faz-lhe um pedido inusitado, o que lhe abre uma pequena cortina de seu passado. Mas... outro mistério será o definitivo da vida de Hajime, novamente se separam, num final aberto, que deixa ao leitor o sabor não só do mistério, mas principalmente do término de uma narrativa que nos dera um grande prazer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário