sábado, 4 de fevereiro de 2023

O sorriso do lagarto, João Ubaldo Ribeiro



O sorriso do lagarto, João Ubaldo Ribeiro


Um romance sobre a maldade humana. Talvez devesse dizer sobre o Mal, como os metafísicos e quejandos gostam de falar. Mas, como não acredito em categorias abstratas, como o Mal x Bem, prefiro dizer que o livro de João Ubaldo Ribeiro é um tratado da maldade humana, ou, pelo menos, uma tentativa de nos fazer ver que o ser humano tem capacidades inauditas de fazer o mal não só a si mesmo, como a todos os outros seres viventes. Assim, o autor nos relata casos de caça a pardais com requintes de crueldade, na parte inicial do livro, preparando-nos para aquilo que seria a crueldade maior: o uso de seres humanos em estranhas experiências genéticas. Toda a história se passa, em contraste com essas crueldades, na paradisíaca ilha de Itaparica, na Bahia. A história é conduzida por um biólogo que abandonou a ciência para se tornar peixeiro, João Pedrosa, que além das desconfianças sobre as crianças deformadas, cujas fotos borradas são destruídas pelo médico responsável pelas tais pesquisas genéticas, consegue superar sua proverbial timidez para manter um tórrido romance com a mulher do capitalista do povoado, o que levar a consequências trágicas, claro. Há personagens interessantes, como um misterioso curandeiro, que foi o primeiro a descobrir as mutações e a tentar protegê-las e denunciá-las. E também o padre que tem crises de consciência em relação ao romance de seu amigo peixeiro com uma mulher casada, sem, no entanto, se envolver como devia no caso das crianças mutantes, por puro preconceito contra o denunciante, o tal curandeiro. Mas tudo fica sem solução, ao final, pois os prováveis responsáveis pelas experiências inescrupulosas conseguem abafar o caso e destruir todas as provas. Paro por aqui, nesta breve resenha, para não precisar aprofundar na análise do romance, já que não é esse o intuito desse blog. Acrescento apenas que esse livro serviu de inspiração para o roteiro de uma minissérie bastante prestigiosa da Globo, em 1991, escrita por Walther Negrão e Geraldo Carneiro, com direção de Roberto Talma.

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