sábado, 11 de fevereiro de 2023

Paisagens da Metrópole da Morte – Reflexões sobre a memória e a imaginação, Otto Dov Kulka

 Paisagens da Metrópole da Morte – Reflexões sobre a memória e a imaginação, Otto Dov Kulka



Inicio esta resenha com uma reflexão, ou melhor, com uma pergunta (talvez meramente retórica): como é possível que, diante de tantas provas, ainda haja no mundo pessoas que neguem o holocausto judeu sob o nazismo hitlerista, ou pior: que ainda haja pessoas no mundo que advoguem a ideologia nazista? Deixo a resposta à imaginação do leitor. Apenas suspiro e sofro ao pensar na maldade humana... Vamos ao livro. O autor, Otto Dov Kulka, é um respeitado historiador israelense, versado em história moderna, o que inclui o nazismo e o holocausto de seu povo. Aos onze anos de idade, em 1943, juntamente com sua família e centenas de pessoas oriundas da então Tchecoslováquia, foi enviado para Auschwitz, de onde sobreviveu por mero acaso. Adulto, passou décadas em silêncio sobre esse fato sombrio de sua infância. Então, durante 10 anos, de 1991 a 2001, gravou suas memórias, com fragmentos de sua passagem pelo terrível campo de concentração, evocando paisagens, pequenos acontecimentos, pessoas, e refletindo sobre aqueles momentos em que esteve várias vezes às portas dos fornos crematórios, mas, inexplicavelmente – pelo menos, para o menino – era poupado. Por acaso, foi enviado, juntamente com seus pais, para o campo anexo a Auschwitz, o “campo das famílias”, como era chamado, em Birkenau, onde os prisioneiros não eram separados entre os mais aptos – que eram enviados a trabalhos forçados na Alemanha – e os “outros”, que eram enviados aos fornos, que funcionavam a pouca distância, dia e noite. E ali, a poucas dezenas de metros dessas máquinas da morte, o menino de onze anos, ironicamente, aprendeu a cantar a “Ode à Alegria”, de Beethoven; viu sua mãe se despedir, para ser enviada a lugar longínquo e desconhecido, numa das cenas mais tocantes e fortes dessas memórias e registrou as paisagens magníficas – que ficaram em sua retina – dos campos e do azul do céu de Auschwitz. A partir desses fragmentos de memórias, o autor nos leva a reflexões sobre um dos momentos mais terríveis da história, motivo pelo qual iniciei esta resenha com o meu espanto diante do fato de que ainda haja pelo mundo grupos de neonazistas e neofacistas, advogando teorias racistas e supremacistas. Sem dúvida, uma pequena obra prima – já que é um livro de apenas pouco mais de 160 páginas – para se ler, reler e pensar. Pensar muito.

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