A Conversa de Bolzano, Sándor Márai
Giacomo. Apenas Giacomo. É como o escritor húngaro Sándor Márai nomeia seu personagem durante toda a narrativa. Mas logo sabemos tratar-se dele mesmo, de Giacomo Casanova. O mais famoso conquistador de todos os tempos consegue escapar de uma prisão veneziana, em 1756, juntamente com seu companheiro de prisão, o abade Balbi. Passara 16 meses numa cela onde mal conseguia se erguer. Na sua escapada para outros países, passa oito dias na pequena cidade de Bolzano, no norte da Itália, onde mora o envelhecido, mas ainda temível, duque de Parma que, anos antes o havia derrotado num duelo por causa de uma dama chamada Francesca. O duque poupara a vida de Giacomo com a condição de que ele não voltasse a vê-la nunca mais. Agora, casado com Francesca, conseguiu interceptar uma carta da esposa para o antigo rival. Nela, apenas três palavras: “Quero ver-te” e a assinatura “F”. Em torno dessas três palavras,teremos as duas longas “conversas” que vão se constituir no cerne da obra. Em vez de matar o antigo rival, o duque visita-o numa noite e faz-lhe uma surpreendente proposta, após um longo monólogo, uma conversa que revela mais sobre a índole de Giacomo do que as dúvidas do velho duque. E a personagem ganhará ainda mais humanização, quando a própria Francesca surge, de repente, no seu quarto, mais tarde, vestida de homem, enquanto o conquistador se preparava para ir à festa à fantasia na casa do duque, para encontrá-la, supreendentemente vestido de mulher. Mais um longo monólogo, agora da sua ex-amante e ainda apaixonada Francesca, mais uma conversa extraordinária que revela cada vez mais, na visão do escritor húngaro, quem é Giacomo Casanova, numa narrativa longa, lenta e meticulosa, um mergulho ficcional no íntimo da personagem, a nos revelar desejos e lampejos de paixão, morte e desejo. Um livro extraordinário, sem dúvida, para leitores que apreciam o que de melhor a literatura do século XX nos ofereceu.
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