O turno da noite – memórias de um ex-repórter de polícia, Aguinaldo Silva
Quando li, no início da década de 70, o livro “Cristo Partido ao Meio”, saudei-o como uma grande revelação da literatura brasileira. O romancista que ali se mostrava como promissor, no entanto seguiu por outros caminhos que lhe deram fama e, com certeza, muito dinheiro. E críticas – favoráveis e desfavoráveis. Agora, tantos anos depois volto a ler Aguinaldo Silva. Não um novo romance, mas um livro de memórias. Dividido em duas partes, narra o autor, na primeira, o começo de sua carreira de escritor jovem em Recife, o encontro com figuras notáveis da nossa literatura (que publicaram seu primeiro romance), os primeiros empregos e experiências como jornalista, sua vinda para o Rio de Janeiro, onde se empregou em vários jornais, exercendo atividades de copidesque e depois a de plantonista de reportagens policiais. Na segunda parte, estão publicados alguns de seus textos sobre casos notáveis da crônica policial carioca, principalmente. Não há nenhuma pretensão literária nestes relatos, tanto os biográficos quanto os textos publicados nos jornais da época, mas apenas um registro histórico do início de sua carreira e as reportagens que marcaram um tempo de muita violência policial, no Rio de Janeiro, nas décadas de 60 e 70. Ressurgem figuras como Mariel Mariscot, um misto de policial e bandido, mais bandido do que policial, e crimes famosos como “o crime do Sacopã” ou da menina Araceli. E também perfis, como o famoso, e hoje quase esquecido, colunista social Ibrahim Sued. O Rio de Janeiro da época retratada por Aguinaldo Silva era lindo e violento – continua lindo e cada vez mais violento. Então, com certeza um livro para ser lido como uma crônica de época, necessário talvez para entendermos um pouco mais o nosso tempo e pensarmos por que motivo a Cidade Maravilhosa não consegue escapar ao seu ciclo vicioso de criminalidade e por que somos, nós, os humanos, tão violentos.
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