O mestre e Margarida, Mikhail Bulgákov
Dois escritores conversam numa esquina qualquer de Moscou, na primeira metade do século XX, quando entram no papo dois indivíduos muito estranhos. Um deles faz uma profecia trágica, que se cumpre com a morte acidental e a decapitação de um desses escritores. O outro persegue pelas ruas de Moscou o indivíduo estranho, mais estranho ainda porque acompanhado da figura de um gato enorme, que age como gente. Não consegue capturá-lo, claro, e vai parar num asilo de loucos. Paremos por aqui, porque é praticamente impossível resumir o enredo dessa história mirabolante: estamos diante do demônio, que visita Moscou, e vai provocar eventos absurdos e complicados. A literatura latino-americana tem no realismo fantástico ou realismo mágico um de seus pilares, no século XX. A cultura europeia tem a tradição do fantasioso, da criação de mundos imaginários e fantásticos, para os quais nos convidam a viagens incríveis (vide “Alice no país das maravilhas”, um exemplo entre centenas). Quando adentramos esse mundo e aceitamos suas regras, a diversão é garantida. Além, é claro, de muitas outras lições ou de vida ou de filosofia ou de crítica social etc. É o que acontece com essa longa e complexa narrativa de Bulgákov: em pleno regime stalinista, o diabo visita Moscou e faz uma série de estrepolias que nos divertem e das quais podemos tirar as lições que quisermos, desde a crítica ao regime até a crítica social, sem dúvida uma das vertentes da obra, escrita e maturada durante muitos anos pelo autor, na década de 30. Seguiremos com prazer e muito divertimento o rastro de destruição e loucura que tomará as ruas e as instituições moscovitas com essa fantasia cômica. Nada será como antes, naquela cidade, depois da passagem do demônio e sua trupe travestida de mágicos estrangeiros, a perturbar a mente e a vida das pessoas, principalmente os poetas, os editores, os burocratas. Uma bela e estranhíssima – como tudo, aliás, é estranho nesse estranho livro – história de amor entre uma personagem denominada apenas como mestre e uma burguesa chamada Margarida, que se transforma em bruxa e voa pelos céus de Moscou, conclui a narrativa brilhante e divertida desse autor ucraniano, na época ainda da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas.
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