O estranho caso do cachorro morto, Mark Haddon
2... 3... 5... 7... 11... assim são numerados os capítulos pelo narrador do livro, um garoto de 16 anos, chamado Christopher, que mora numa pequena cidade perto de Londres. São números primos, porque ele adora números primos e porque ele é um gênio da matemática e porque ele é autista. Tem estranhas manias, como não admitir ser tocado por ninguém, não conversar com estranhos, comer uma comida “diferente” que, no prato, não pode uma ser encostada na outra, ou ainda ter como animal de estimação um ratinho. Mora com o Pai, assim, em letras maiúsculas, que lhe disse ter a Mãe morrido há algum tempo, no hospital, de ataque cardíaco. Frequenta uma escola para crianças excepcionais próxima à sua casa e, um dia, encontra no jardim de uma vizinha, amiga de seu pai, o cachorro assassinado por um forcado. Resolve investigar o crime. E, para isso, anota numa espécie de livro todas as pistas que vai encontrando ou desenvolvendo, como se fosse Sherlock Holmes, de quem é fã, embora não goste do autor, Conan Doyle. Essa “investigação” vai levá-lo a descobrir muitas coisas sobre sua própria vida e sobre si mesmo. Todos os capítulos do livro – cujo narrador, repito, é o jovem Christopher – são curtos, exceto o último, bem mais longo, quando há o desfecho da história. Temos, portanto, o relato sempre do ponto de vista do autista, com todo o seu raciocínio diferente, sua visão de mundo afetada por sua condição, mas de uma forma que o leitor vai aos poucos entrando nesse mundo estranho, sem qualquer dificuldade de aceitar que haja pessoas diferentes no mundo, por mais que suas atitudes e pensamentos extrapolem a lógica dos chamados seres “normais”. As descrições que ele faz das paisagens que seu cérebro cria ou analisa são quase sempre seguidas de desenhos e mapas que nos ajudam a entender o que ele está pensando ou imaginando. Também vamos desvendando seu raciocínio matemático até a prova avançada a que ele se submete no final, colocando como apêndice de seu livro – afinal o livro é escrito por ele, é dele – um exemplo de problema que ele resolve para ganhar grau máximo e se animar em se preparar para outros desafios, como fazer a prova avançada de física, outra paixão, e entrar numa faculdade. Realmente, uma obra excepcional que, voltada para o público adulto, obteve também sucesso com os jovens e, por isso, pode ser uma boa indicação para professores, principalmente do nosso ensino médio.
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