segunda-feira, 3 de julho de 2023

O processo civilizador - volume 1: Uma Historia dos Costumes, Nobert Elias

 O processo civilizador - volume 1: Uma Historia dos Costumes, Nobert Elias


Se você algum dia já se perguntou: o que é civilização? Ou, diante de tanta barbárie: somos realmente “civilizados”? Então, você deve ler Norbert Elias. Talvez não encontre em suas obras respostas definitivas, porque, na verdade, não há nunca respostas definitivas. Mas, com certeza, começará a encontrar o caminho para responder a essas dúvidas e a muitas outras. Esse sociólogo alemão, talvez devamos dizer sociólogo-historiador ou historiador-sociólogo, ou ainda, um filósofo, considera o ser humano inserido profundamente na sociedade em que vive, influenciando e sendo por ela influenciado, ou talvez devamos dizer mais apropriadamente construindo a sociedade em vive, não num processo estático, mas num processo dinâmico de aprendizagem dolorosa, mas em progressão sempre para o que ele chama de algum sentido, mesmo que não se saiba exatamente qual é esse sentido. Mesmo diante de todas as barbáries já cometidas pela humanidade – e ele circunscreve essa humanidade ao europeu que contamina todos os demais seres humanos, seja por que meios lícitos ou ilícitos – o autor de “Uma história dos Costumes”, primeiro volume de uma obra maior, em que pretende discutir o conceito de civilização, transmite um certo otimismo quanto às conquistas do ser humano. Neste primeiro volume, ele analisa o comportamento humano desde a idade média, nos seus detalhes mais comezinhos, como o comportamento à mesa, por exemplo, que disseca por que começamos a usar talheres ou por que não mais cuspimos na mesa ou escarramos durante uma refeição. Foi um longo condicionamento, mais do que aprendizado, em que o ser humano – no princípio, a “nobreza” europeia – aos poucos vai interiorizando um certo “nojo” a esses comportamentos, até que eles sejam abandonados e começa-se, então, a cultivar atitudes mais condizentes com o que chamamos de “civilização”. Esse livro foi escrito na década de 30, antes, portanto, da segunda guerra. Por isso, algumas ideias pareçam datadas, mas não o são, de forma alguma. No posfácio, que na verdade é um prefácio à edição de 1969 do livro, o autor deixa o historicismo para abrir o seu pensamento e assentar as bases da sua pesquisa e da sua visão de mundo, com uma crítica fundamentada a uma certa sociologia que vê o ser humano separado da humanidade, como duas entidades distintas, como se ele, o ser humano, estivesse “envelopado” por espécie de “pele” que tem um conteúdo que o protege da sociedade em que vive, numa visão absurdamente metafísica. Se pensarmos no ser humano e na sociedade como algo intrinsecamente inseparáveis, dentro de um processo histórico de dura e sofrida aprendizagem em busca de um “sentido” civilizador, podemos ver em funcionamento nos dias de hoje esse processo, quando pensamos em aspectos tenebrosos do “anima” humano, como o racismo (para dar um só exemplo), que precisa ser extirpado através da repetição exaustiva de que não basta não sermos racistas, que é preciso ser antirracista, além de aplicação de penalidades severas a quem comete atos de racismo. É um aprendizado doloroso – para os racistas –, mas necessário, mesmo que demande um tempo que não podemos calcular. Enfim, se você, leitor dessas linhas, preocupa-se com o “homo sapiens”, você precisa ler Norber Elias. Talvez esse “homo” não seja tão “sapiens” quanto imaginamos, mas está a caminho de sê-lo.

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