Risíveis amores, Milan Kundera
Os sete contos que compõem este livro trazem como marca comum a visão do autor de que o amor, no caso o amor erótico, não é trágico nem cômico, mas tragicômico. São histórias que provocam no leitor aquele riso envergonhado de quando percebemos quanto de futilidade há na conquista amorosa, quando seu objetivo é só mesmo a satisfação carnal do conquistador. Ressalte-se que todos os protagonistas são homens, machos no sentido não exatamente donjuanesco do termo, mas conquistadores colecionadores, predadores que não temem o ridículo para chegar a bom termo suas intenções de conquistas, na maioria das vezes, vazias e sem perspectiva. A mulher é vista sempre como algo que tem que ser belo, o mais belo possível. As feias ou são desprezadas ou humilhadas, como a diretora feia e quase idosa de um colégio do interior, obrigada pelo professor bem mais novo e conquistador a se ajoelhar nua e rezar um pai-nosso, apesar de não professar nenhuma religião, para obter seu quinhão de prazer carnal. Ou o caso do protagonista bem mais velho casado com uma belíssima e desejada atriz, o qual, em tratamento numa estação de águas, exerce seu narcisismo na conquista de outras mulheres, mesmo que a esposa lhe declare um imenso amor e fidelidade. No mercado da carne, há sempre mentiras e subterfúgios, jogos que levam a descobertas de que há ali, naquela situação, apenas desejo e nada mais. Mais do que risíveis amores, são amores ridículos, por parte de machos que parecem estar sempre em busca de algo que não sabem bem o que é através da conquista amorosa, já que as mulheres são apenas e tão somente objetos de cobiça e nada mais. O estilo irônico e detalhado do autor não consegue disfarçar, na minha opinião, a misoginia e a visão de uma época – entre 1959 e 1968, quando foram escritos esses contos – em que à mulher cumpria ser apenas um complemento do homem, mesmo sob o regime comunista, também ele conservador quanto aos costumes.
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