As aventuras de Augie March, Saul Bellow
Na Chicago de 1920, o menino Augie convive com uma família meio disfuncional: a mãe, cujo marido sumiu no mundo, subjugada pela estranha avó, dois irmãos, sendo um deles, o mais novo, deficiente mental. A depressão do final da década leva o jovem, nos anos trinta, a passar por inúmeros empregos, desde acompanhante de uma rica senhora mais velha a ladrão de livros e sindicalista. E é justamente como acompanhante dessa senhora, numas férias em um balneário, que conhece duas irmãs de família aparentemente rica. Apaixona-se perdidamente por uma delas, mas é a outra, chamada Thea, que se declara a ele e diz que, embora estejam indo embora, ainda vai encontrá-lo algum dia. Os anos passam, ele se envolve com os negócios do irmão mais velho, que está agora casado com uma herdeira de uma família rica, e quase se casa com uma das jovens dessa família. É então que reaparece a garota do balneário, Thea, e os dois, apaixonados, encetam, uma louca viagem para o México, durante a qual ela compra uma águia e se dedica, junto com Augie, a tentar domesticá-la. Numa cidadezinha turística do México, onde vivem, ele acaba se envolvendo com outra mulher, Charlotte, o que leva ao rompimento com Thea. Volta aos Estados Unidos e, tempos depois, reencontra Charlotte, com quem se casa. Ela é atriz e viaja muito. Ele, por sua vez, consegue se alistar na marinha mercante, durante a segunda guerra. Durante uma viagem, o navio afunda e ele fica muitos dias à deriva, numa balsa, com outro sobrevivente, sendo resgatado por um navio mercante da Inglaterra. Depois de meses num hospital em Londres, consegue voltar para a mulher nos Estados Unidos e enceta negócios com um negociante indiano, o que o leva a viajar para vários países. Essa, em síntese, as aventuras de Augie March, num dos livros mais impressionantes da literatura estadunidense, tanto no aspecto formal, quanto no aspecto narrativo. Formalmente, a tradução, qualquer tradução, não nos possibilita comentar os ingredientes linguísticos propostos pelo autor, como o uso de uma linguagem mais próxima do popular, com expressões e vocábulos típicos de classes sociais excluídas da academia. Já o aspecto narrativo, esse nos surpreende pela capacidade inventiva e criativa, através de um narrador-personagem que encarna o anti-heroísmo dos cínicos e desiludidos, levados muito mais pelas circunstâncias do que por uma vontade que o aproxime do protagonista clássico. Além disso, a galeria impressionante de personagens que povoam a narrativa, quase uma novela, com vários núcleos dramáticos, tornarão a leitura das aventuras desse não-herói uma experiência realmente inesquecível, para as qual não faltará fôlego a nenhum leitor para vencer as mais de setecentas páginas do livro.
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