quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Pedro Páramo, Juan Rulfo

 Pedro Páramo, Juan Rulfo


A memória pertence aos mortos. Pelo menos, é essa a sensação que temos, ao término de “Pedro Páramo”, o romance seminal da moderna literatura mexicana, quiçá, da literatura latino-americana. Praticamente inaugura, com seu estilo “seco”, mas extremamente poético, o realismo fantástico, em cuja fonte beberam quase todos os grandes escritores da América de fala espanhola e portuguesa. Seu enredo é simples: Juan Preciado cumpre a promessa feita à mãe em seu leito de morte de que procure o pai, Pedro Páramo, nas profundezas do interior mexicano, em vilas de miséria e violência, onde ele, o pai, pontificou como um tenebroso e lendário assassino. Preciado não encontra mais as pessoas que conviveram ou foram vítimas do pai, mas defuntos repletos de memórias, que lhe contam da crueldade implacável do pai. A narrativa é entrecortada entre muitos narradores e fatos que vão pouco a pouco construindo o perfil de Pedro Páramo, ao mesmo tempo que nos dá um retrato de um país, o México, mergulhado em pobreza, em revoluções sangrentas, em que, metaforicamente, só os mortos sobreviveram para narrar os horrores da história. Não é um livro para se deleitar num fim de semana, mas para ser lido com o arrepio da certeza de que nós, os cucarachas latino-americanos, ainda precisamos superar muitos complexos e, principalmente, a miséria e a desigualdade, para ganharmos dignidade. Longe está, portanto, de ser um romance “fácil”, em suas pouco mais de 120 páginas. Para concluir: Juan Rulfo publicou apenas dois livros – “Pedro Páramo” e um livro de contos. Por isso, é considerado o escritor mais silencioso da América. Acredito que ele disse tudo o que queria e precisava dizer só com esses dois livros, principalmente com o instigante “Pedro Páramo”.

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