segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

26 poetas hoje, Heloísa Buarque de Hollanda (Heloísa Teixeira)

 

26 poetas hoje, Heloísa Buarque de Hollanda (Heloísa Teixeira)


Heloísa Buarque de Hollanda não tem nenhum parentesco com a família de Chico Buarque. Esse sobrenome é de seu primeiro marido e, ao tomar posse na ABL, em 2023, Heloísa declarou que passaria a adotar o Teixeira, de origem materna. Dito isso, vamos à antologia 26 POETAS HOJE. Primeiro, esclareçamos que esse “hoje” refere-se a 1975, ano da publicação da primeira edição do livro. Também precisa ficar claro que, entre os 26 poetas escolhidos, não há nenhum “medalhão” da poesia brasileira, mesmo da época, mas são todos jovens na faixa de mais ou menos 30 anos e constituem o que se convencionou chamar de “poesia marginal” (aliás, um péssimo nome). Lembremos que estávamos naquele momento sob um regime militar que censurava e perseguia os artistas, principalmente da música popular e do teatro. Não tenho notícia de que esses poetas “marginais” tivessem sido censurados, já que publicavam seus livros com autofinanciamento e os vendiam em bares e portas de cinemas e teatros. No entanto, notamos em muitos de seus poemas – cuja temática era quase sempre social ou episódica – uma certa autocensura, principalmente porque usavam uma linguagem metafórica e enigmática, às vezes de entendimento um tanto difícil, a uma leitura rápida e superficial. Seguem uma estética de versos livres e de poemas-piada, na “tradição” dos poetas modernistas de 22, radicalizando, no entanto, o conceito de liberdade no uso do coloquial e, às vezes, no abuso do palavrão que, à época, devia chocar ouvidos mais sensíveis. Mesmo quando aparece – e não são muitos os poemas desse tipo – a poesia dita confessional, ou amorosa, perseguem uma linguagem mais crua e direta, sem muitas concessões ao lirismo. Numa edição de 1995, a própria organizadora da antologia, num prefácio bastante crítico, levanta alguns problemas relacionados tanto a essa estética quanto a um possível “envelhecimento” desses textos. Dentre os poetas compilados, vários deles se tornaram conhecidos e são, hoje, nomes bastante festejados da nossa literatura. Concluindo, podemos dizer que os poemas desse livro constituem uma forma de poesia desabrida, sem quaisquer freios ou regras, talvez datada, mas que ainda pode ser lida com o prazer da descoberta de uma estética que se estende desde aqueles tempos até os dias de hoje, mantendo-se todos os devidos cuidados quanto às diferenças sociais, políticas, econômicas etc. ocorridas nesses quase 50 anos da publicação desse livro que – não posso me furtar a dizer – li com muito prazer.


PS:

Participantes da antologia: Francisco Alvim, Zuca Saldanha, Antonio Carlos de Brito (Cacaso), Roberto Piva, Torquato Neto, José Carlos Capinan, Roberto Schwarz, Zulmira Ribeiro Tavares, Afonso Henriques Neto, Vera Pedrosa, Antonio Carlos Secchin, Flávio Aguiar, Ana Cristina Cesar, Geraldo Eduardo Carneiro, João Carlos Pádua, Luiz Olavo Fontes, Eudoro Augusto, Waly Sailormoon (Waly Salomão), Ricardo G. Ramos, Leomar Fróes, Isabel Câmara, Chacal, Charles, Bernardo Vilhena, Leila Miccolis e Adauto de Souza Santos.

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