sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

O idiota, Fiódor Dostoiévski

 

O idiota, Fiódor Dostoiévski


Em meados do século XIX, o príncipe Liév Nikoláievitch Míchkin, aos 26 anos, retorna à terra natal, São Petersburgo, após passar muitos anos na Suíça, a tratar de sua epilepsia. Seu objetivo é reencontrar parentes distantes. Já na viagem de volta, no trem, conhece Parfión Rogójin, que será no decorrer da história uma espécie de amigo fraterno e rival no amor por uma dama belíssima, conhecida por sua vida não muito regular, chamada Nastássia Filíppovna. Mas o romance com essa mulher dura pouco e o príncipe propõe casamento a uma das filhas de sua parenta distante, a ciumenta, esquiva e temperamental Aglaia. Nada, porém, dá certo na vida do príncipe, envolto em tramas e uma multidão de personagens que participam de sua vida e lhe dão orientações, conselhos ou tentam compreender suas palavras às vezes desconexas, suas atitudes “fora da curva”. A narrativa das aventuras e desventuras do príncipe é lenta e detalhada, retratando com precisão cirúrgica a sociedade da época. Mas, o mais importante: o jeito alheado e simplório do príncipe, que praticamente nada estudou, leva a que todos o tomem por idiota, embora sua visão de mundo seja de uma pureza quixotesca, exsudando bondade e humildade. Não tem a maldade nem a malícia da complexa sociedade em que vive, e é esse o objetivo de Dostoiévski: o conhecimento da psicologia e a compreensão mais profunda do ser humano, ao contrapor seu anti-herói “positivamente bom” a uma sociedade de valores rígidos e materialista. Acompanhamos passo a passo e de forma sutil a deterioração da mente de Míchkin, até o seu trágico fim. Até onde vai a loucura e onde começa a “santidade” da personagem, é a pergunta que se faz o leitor. Não é um livro simples ou fácil de ler, porque longo e meio caótico na sua narrativa, o que é uma das características de Dostoiévski, mas, sem dúvida, um mergulho nas águas mais profundas da psique humana e na busca da compreensão do ser humano, através da ficção.

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