quarta-feira, 14 de fevereiro de 2024

A bibliotecária dos livros queimados, Brianna Labuskes

 

A bibliotecária dos livros queimados, Brianna Labuskes


Num dia qualquer de maio de 1933, numa praça de Berlim, um grupo de estudantes, inspirados pela propaganda nazista, faz uma grande fogueira, alimentada por... milhares de livros! E muitos cidadãos alemães deram fim às suas bibliotecas, porque também continham obras que eram contrárias à ideologia do partido nazista no poder. Em 1944, nos Estados Unidos, uma organização que envia livros de bolso aos soldados no front da segunda guerra, a Council of Books In Wartime, luta contra uma emenda de um senador que deseja estabelecer censura a esses livros. Esses são dois fatos históricos. A partir deles e de outros detalhes verdadeiros, Brianna Labuskes cria sua ficção histórica. Três mulheres têm suas vidas modificadas para sempre, ao se entrelaçarem. A escritora estadunidense Althea James é convidada por Joseph Goebbels para um intercâmbio cultural em Berlim, em 1933. Iludida pelo discurso nazista, encanta-se com o regime hitlerista. Mas, conhece Hannah Brecht, uma fascinante ativista antifascista, que lhe mostra a verdadeira face do regime. Entre elas estabelece-se uma ligação que vai além da amizade, ligação pontuada por amor, desejo, admiração, traição, ódio e separação. Na Nova Iorque de 1944, a publicitária Vivian Childs busca reunir todas as forças possíveis, desde a opinião pública até políticos e pessoas de prestígio, para impedir a censura aos livros enviados aos soldados. Sem conhecer a vida das duas mulheres e sem saber que se conheciam, Athea e Hannah são por ela reunidas num evento destinado a convencer o senador de suas ideias absurdas. E então, depois de muitos anos, as duas mulheres vão conseguir acertar as contas do passado complexo e doloroso por que passaram na Berlim da década de 30. Não é um livro “fácil”, ou seja, exige do leitor uma atenção que é mais ou menos normal quando a obra tem uma estrutura de alternar datas e locais diferentes a cada capítulo. Mas, não é só isso: a narrativa e os diálogos mais sugerem do que detalham muitos dos acontecimentos, que só vão fazendo sentido aos poucos, desvendando ao leitor um mundo fantástico e inspirador de amor aos livros e do poder da literatura de mudar vidas humanas. Uma ficção histórica é isto: a partir de fiapos de realidade, constrói-se um mundo fascinante que ilumina a própria História e nos leva a imaginar como teria sido diferente a realidade, se os fatos tivessem ocorrido como o escritor nos conta. Poderiam ser assim tão cruéis? Ou poderiam ter um final feliz, como nos sugere a ficção? Não importa: sentimo-nos mais humanos, quando chegamos à última linha de um livro como este e tantos outros que nos envolvem com suas histórias inspiradas ou baseadas em “fatos reais”, interpretadas pela imaginação e pela visão de mundo do escritor ou escritora. Haja vista o extraordinário “Um defeito de cor”, já comentado neste blog.

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