De moto pela América do Sul, Ernesto Che Guevara
Confesso que tenho pouquíssimos ídolos dentre os líderes mundiais de todos os tempos. Um deles, sem dúvida, é Che Guevara. Por sua vida, por seus ideais e por suas ideias. Quando me propus a ler seu famoso diário, em forma de narrativa, é óbvio que não espera encontrar o mito, o guerrilheiro que lutou ao lado de Fidel Castro para libertar Cuba nem o ministro e depois o homem que abandonou tudo para levar seus ideais de liberdade à África e à América do Sul, até ser covardemente morto numa emboscada na Bolívia. No entanto, apesar da pouca idade – tinha apenas 24 anos, ao empreender a longa viagem da Argentina até a Venezuela, a bordo de uma motocicleta, com seu amigo Alberto – lá está o embrião do homem idealista que deu sua vida pela liberdade. A narrativa é linear, sem digressões literárias, contando os perrengues por que passaram os dois jovens nessa jornada, relatando fatos e comentando aqui e ali a situação das pessoas que viviam (e vivem ainda) em situação de miséria e de dificuldades, nas aldeias e pequenas cidades andinas, principalmente os povos originários daquelas regiões do Chile, da Colômbia, da Venezuela e da região amazônica. O interesse maior dos dois estudantes de medicina se concentra na leprologia, quando essa doença tinha ainda o estigma do abandono e do preconceito. Há em toda a narrativa um olhar crítico e ao mesmo tempo humano, ressaltando sempre a multiplicidade de aspectos tanto geográficos quanto humanos da América retratada nos diários e a receptividade e acolhimento das pessoas que eles encontraram em todos os lugares por que passaram. Há muitas lacunas, como, por exemplo, a falta de recursos financeiros da dupla e de como, muitas vezes, conseguiram dinheiro para prosseguir viagem; também não nos relata o motivo da ausência – lamentada – do companheiro Alberto Granado, na parte final da viagem. A narrativa se encerra na selva amazônica, quando ele chegou a entrar em território brasileiro, não havendo qualquer relato da esticada até Miami, nos Estados Unidos, onde permaneceu por quase um mês, fato relatado por seu pai, num apêndice.
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