terça-feira, 19 de março de 2024

De moto pela América do Sul, Ernesto Che Guevara

 

De moto pela América do Sul, Ernesto Che Guevara


Confesso que tenho pouquíssimos ídolos dentre os líderes mundiais de todos os tempos. Um deles, sem dúvida, é Che Guevara. Por sua vida, por seus ideais e por suas ideias. Quando me propus a ler seu famoso diário, em forma de narrativa, é óbvio que não espera encontrar o mito, o guerrilheiro que lutou ao lado de Fidel Castro para libertar Cuba nem o ministro e depois o homem que abandonou tudo para levar seus ideais de liberdade à África e à América do Sul, até ser covardemente morto numa emboscada na Bolívia. No entanto, apesar da pouca idade – tinha apenas 24 anos, ao empreender a longa viagem da Argentina até a Venezuela, a bordo de uma motocicleta, com seu amigo Alberto – lá está o embrião do homem idealista que deu sua vida pela liberdade. A narrativa é linear, sem digressões literárias, contando os perrengues por que passaram os dois jovens nessa jornada, relatando fatos e comentando aqui e ali a situação das pessoas que viviam (e vivem ainda) em situação de miséria e de dificuldades, nas aldeias e pequenas cidades andinas, principalmente os povos originários daquelas regiões do Chile, da Colômbia, da Venezuela e da região amazônica. O interesse maior dos dois estudantes de medicina se concentra na leprologia, quando essa doença tinha ainda o estigma do abandono e do preconceito. Há em toda a narrativa um olhar crítico e ao mesmo tempo humano, ressaltando sempre a multiplicidade de aspectos tanto geográficos quanto humanos da América retratada nos diários e a receptividade e acolhimento das pessoas que eles encontraram em todos os lugares por que passaram. Há muitas lacunas, como, por exemplo, a falta de recursos financeiros da dupla e de como, muitas vezes, conseguiram dinheiro para prosseguir viagem; também não nos relata o motivo da ausência – lamentada – do companheiro Alberto Granado, na parte final da viagem. A narrativa se encerra na selva amazônica, quando ele chegou a entrar em território brasileiro, não havendo qualquer relato da esticada até Miami, nos Estados Unidos, onde permaneceu por quase um mês, fato relatado por seu pai, num apêndice.

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